sábado, 23 de janeiro de 2010

Considerações literárias

Os leitores extraem dos livros, consoante o seu carácter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno.

Nietzsche

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Quem Quer Ser Bilionário?




Quem Quer Ser Bilionário?
Vikas Swarup
Edições Asa
EAN 9789724148731
ISBN 978-972-41-4873-1


Sinopse:

Porque está Ram, um pobre empregado de mesa de Mumbai, na prisão?
A) - Esmurrou um cliente
B) - Bebeu demasiado whisky
C) - Roubou dinheiro da caixa
D) - É o vencedor do maior prémio de sempre de um concurso de televisão

A resposta certa é a alínea d).

Ram foi preso por responder correctamente às doze perguntas do concurso televisivo Quem Quer Ser Bilionário?.
Porque um pobre órfão que nunca leu um jornal ou foi à escola não pode saber qual é o mais pequeno planeta do sistema solar ou o título das peças de Shakespeare. A não ser que tenha feito batota. Mas a verdade é que foi a própria vida a fornecer-lhe as respostas certas às doze perguntas cruciais. Desde o dia em que foi descoberto num caixote do lixo que Ram revela instintos de sobrevivência infalíveis e aparatosamente criativos. Espantando uma audiência de milhões, serve-se dos seus conhecimentos de rua para arranjar respostas não só para o concurso televisivo mas também para a própria vida.
Na história do jovem Ram concentra-se toda a comédia, a tragédia, a alegria e a amargura da Índoa moderna.



Se foi um dos milhões que, em todo o mundo, viu o filme sensação dos óscares do ano passado e julga encontrar neste livro um relato fidedigno desse filme... Desengane-se!

A essência da história é, basicamente, a mesma, mas o foco da mesma e das personagens está distante da adaptação cinematográfica. Nesta obra o lado romântico da história, o qual estava no centro do filme, quase não é tocado, com Nita, o objecto dos afectos de Ram, a aparecer apenas no penúltimo capítulo... O jovem, ao contrário do que se passa no filme, não tem irmãos tendo, isso sim, um amigo chamado Salim (que não é nada como foi representado no filme - i.e., é uma boa pessoa)... O motivo que o leva a concorrer ao programa não é o mesmo que na adaptação... No entanto, a essência da obra é a mesma da sua versão da sétima arte. Através das histórias da sua vida pessoal vamos chegando, mesmo sem o sabermos, às respostas às questões que lhe vão sendo colocadas.

O livro é, não só, uma história pessoal da ascensão de alguém numa sociedade de classes bem definidas, como também a história de um país e de um povo. Tal como no Tigre Branco este livro mostra-nos um lado da Índia cru, feio, agreste e podre... Mas nem por isso qualquer um dos dois livros deixa de ser excelente!!!



Nota 4

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Dama das Camélias





A Dama das Camélias
Alexandre Dumas, Filho



Se viu o filme Moulin Rouge e gostou, então é provável que goste deste livro!

Li-o quando ainda era miúda (tinha p'raí 13 anos) e acredito que o que me chamou a atenção foi a referência, no título, às Camélias (flor importante em Sintra, onde moro), já para não falar que aliava esse factor ao descobrimento de um dos nomes clássicos da literatura (campo que começava a explorar).

A história deste livro é um dramalhão comparável com os contemporâneos livros de Nicholas Sparks (pelo que poderá querer ter um stock de Kleenex à mão).

O enredo da obra centra-se na relação entre a cortesã Marguerite (a Dama das Camélias - nome por que é conhecida devido à sua predilecção por esta flor) e o jovem Armand. Antes de conhecer o jovem, Marguerite é uma das mais pretigiadas cortesãs de Paris (se não mesmo a mais pretigiada) e mantém relações com condes e duques. Ao conhecer o jovem estudante de Direito, Marguerite perde-se de amores por ele, sendo correspondida nesse sentimento. Mesmo sabendo que Armand não lhe poderá proporcionar o estilo de vida a que está habituada, a Dama das Camélias renuncia ao seu estilo de vida para poder viver a sua história de amor. Mas, ao verem-se na penúria e sem o apoio de quem quer que seja, as coisas começam a deteriorar-se entre o casal. Tudo piora quando o pai de Armand, às escondidas do próprio filho, aborda Marguerite e lhe pede que deixe o seu filho para o bem deste (que nunca poderá almejar a ser alguém na sociedade se persistir nesta relação) e da jovem irmã de Armand (que ficará prejudicada socialmente pela desonra do irmão). Marguerite, por amor, aceita. (adoro estes livros em que o vilão, por motivos honrosos, força a desgraça dos demais e em que a jovem, pela grandeza do seu espírito, se sacrifica - não podia ser mais lamechas, mas enfim...)
Armand, julgando-se desprezado por aquela que ama, entra numa depressão... Quando finalmente a volta a encontrar, Marguerite está na companhia de uma outra cortesã e tem novo amante. Despeitado, Armand tenta seduzir a parceira de Marguerite. Esta vai ter com ele para lhe pedir que não seduza outras mulheres à sua frente e os dois acabam por fazer amor. Depois, arrependida por ter faltado à palavra que dera ao pai do homem que ama, abandona-o uma vez mais. Mais magoado que nunca, Armand vinga-se sem dó nem piedade: Num baile aproxima-se da Dama das Camélias e, à frente de todos os convivas, entrega-lhe um envelope cheio de dinheiro "pelos serviços prestados". O que o jovem não sabia era que a cortesã está a morrer, tuberculosa. Mortificada pela acção de Armand e vendo a natureza da sua profissão publicamente revelada, Marguerite, sendo abandonada pelos antigos amantes, morre só e na penúria. Armand saberá, depois da sua morte, através do seu diário, os motivos do seu afastamento e a dor que ele lhe causou pelas suas acções.



Nota 4

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Considerações literárias

Everyone who knows how to read has it in their power to magnify themselves, to multiply the ways in which they exist, to make their life full, significant, and interesting.
- Aldous Huxley

Águas Negras



Águas Negras
Joyce Carol Oates
Edições Asa
Colecção Pequenos Prazeres
EAN 9789724112756
ISBN 972-41-1275-6


Sinopse:

Na noite da festa do 4 de Julho, um carro conduzido por um Senador, no qual viajava também uma jovem que ele conhecera horas antes, despista-se ao fazer uma curva inesperada junto de uma ponte e mergulha nas águas negras de um pequeno rio.A partir desse instante, o ponto de vista adoptado é o da própria jovem, Kelly Kelleber.E o leitor vai descobrindo, pouco a pouco, o seu passado e o seu presente, o seu espírito e o seu corpo, através de páginas que descrevem de forma admirável a figura dessa jovem atraída por um homem mais velho, no qual crê vislumbrar um herói, um pai e um possível amante. A sua voz adquire então o tom da tragédia clássica, já que ela parece falar em nome de todas as mulheres que sucumbem à sedução que emana de certos homens, arrastadas por sonhos românticos que a realidade se encarrega de brutalmente desmentir.



Na verdade pouco mais há a acrescentar à sinopse deste pequeno livro (128 páginas), o qual se supõe ter sido inspirado pelo romance de Marilyn Monroe com os dois senadores Kennedy.
Durante a leitura vamos acompanhando a morte iminente da jovem Kelly Kelleher (e não Kelleber, como se pode ler na sinopse disponível no site da Asa) pela prespectiva da jovem.

Através da voz da víctima vamos sabendo como esta, que se encontrava na festa do 4 de Julho em casa de uma amiga, Buffy, com quem planeava ficar uma temporada, acaba por, ao ser apresentada a um senador dos Estados Unidos da América, por quem tem grande admiração (ao ponto de ter feito a sua tese sobre ele), decidir abandonar a festa com o homem que a fascina. A hipótese de passar de admiradora a amante deste grande homem da política nacional é. simplesmente, algo que ela não consegue recusar.

Ele sente.se sexualmente atraído por ela, quanto a isso não há dúvidas, tendo dado-lhe mais atenção do que a qualquer outra pessoa na festa antes de lhe propor que o acompanhasse a um motel. Quanto a ela, mais do que a atracção sexual (uma vez que não é uma pessoa para quem o sexo tenha grande valor para além do de dar prazer à pessoa que ama) o que a atrai é o Homem!

No entanto, o Senador (do qual nunca sabemos o verdadeiro nome), não lhe dá o valor que dela recebe. Tendo bebido mais do que a conta durante a festa (e continuando a fazê-lo durante a viagem) acaba por perder o controlo do carro fazendo com que este se despiste e caia nas águas negras de um rio. Preocupado apenas consigo e com a sua carreira, e como este episódio poderia ser utilizado pelos seus rivais políticos contra si, despacha-se a abandonar a viatura afundada, mesmo quando isso significa não só abandonar a jovem como, até, utilizá-la como impulsionadora para ganhar o balanço necessário para o mergulho que o levará à superfície e ao oxigénio.

Kelly, que mais do que tudo acredita no Homem e no Político, aguarda pacientemente que este regresse para a libertar enquanto tenta aproveitar a bolha decrescente de ar no carro afundado. Enquanto o faz vai recordando o seu passado, familiar, sentimental e profissional... Sem nunca perder a esperança ou de acreditar na sua salvação. No entanto, com o tempo e a falta, cada vez mais acentuada, de oxigénio, as suas lembranças vão-se misturando com alucinações em que ela não é ela, em que toma o lugar de outras pessoas (como o de uma amiga estudantil que se tentou matar) ou em que, pura e simplesmente, se vê a ser salva e a regressar aos braços dos pais como se de uma criança se tratasse.

Sem o saber, o Senador abandonara-a sem qualquer intenção de voltar, e estava mais preocupado em ligar para o seu advogado para o ajudar a limpar-se do que passara do que propiamente em chamar ajuda para a tirar das águas infestas.

"...e a água negra encheu os seus pulmões e ela morreu."


Nota 3