sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

espiral descendente...


O Túnel
de Ernesto Sabato
Editor: Relógio D` Água
ISBN: 9789896411015

Sinopse

O Túnel é a única novela escrita pelo argentino Ernesto Sabato e que, conjuntamente com Heróis e Túmulos e Abaddón, o Exterminador e diversos ensaios, o tornaram um dos mais importantes escritores contemporâneos. O Túnel possui uma estrutura policial, tendo em Maria Iribarne uma personagem feita dessa alternância de luz e sombra que acaba por levar o pintor Juan Pablo Castel a assassiná-la, num processo em que os seus actos são analisados até à exaustão.
Livro sobre o amor, O Túnel é também uma obra sobre a criação e o que nela pode haver de obsessivo na ânsia de ultrapassar a solidão. «Existiu uma pessoa que poderia entender-me; mas foi precisamente essa pessoa que matei», diz Juan Pablo que se apaixonara pela mulher que fora capaz de compreender um quadro seu e de quem mais tarde não suportará o abandono.
Este livro estava na minha lista de "próximas aquisições" desde que o descarreguei e expus quando primeiro chegou à loja (há já algum tempo).  Mas estava na lista dos "não urgentes", pelo que era constantemente ultrapassado por outro espécime literário.  Foi, uma vez mais, nos saldos da Fnac, ao apresentar-se com o convidativo preço de 5€, que ganhou espaço na prateleira cá de casa.
Não sei se foi do longo namoro, se das preces que a Manuela Alvim (cliente e amiga em cujos conselhos literários acredito), mas a verdade é que esperava...  mais!
Admito, o assunto visado é-me completamente desconhecido...  Acho que não fui "abençoada" com o gene do ciúme e, talvez por isso, a leitura desta obra me tenha sido tão dolorosa.
Juan Pablo, personagem e narrador, conta-nos os eventos que culminaram no "seu" crime.  Matou Maria Iribarne.  Ele próprio no-lo confessa na primeira página.  E, este "túnel" em que ele sente que se movimenta sózinho, ainda que paralelo a outros, foi, para mim, uma espiral descendente de loucura que culmina na total perda de razão.  Juan Pablo vê Maria numa sua exposição (é pintor) e acredita ver nela a única pessoa na sala que verdadeiramente percebe um seu quadro.  A certeza de ter sido compreendido por outro ser humano torna Maria uma obsessão que tem de concretizar a qualquer preço.  Procura-a nas ruas de Buenos Aires enquanto fantasia diálogos que os aproximarão um do outro.  Quando, por fim, a encontra, a obsessão ganhara já formas de amor, e começa a autodestruição...  Todos os possíveis homens da vida de Maria (à excepção do marido os "outros" nunca são confirmados), as horas que passam longe um do outro, a reserva dela em partilhar pormenores da sua vida (em especial da vida amorosa), tudo isso alimenta a loucura de Juan, que tenta, propositadamente, magoá-la sem se aperceber que é a si próprio que magoa.  No culminar da loucura, persegue-a até à fazenda da família e crava-lhe uma faca no coração...
Sinceramente...  O livro está brilhantemente escrito (ou não surtiria o efeito que me provocou), mas para alguém que, como eu, não conhece as negras sombras do ciúme e da obsessão...  senti-me quase paranóica e custou-me terminar o livro.
Nota: 3 (mas, a bem da verdade, gostaria de lhe dar, se constasse da avaliação, um mais sincero 2,5)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Amor é... um Sonho...



O Amor de Longe
Amin Maalouf
Difel
ISBN: 972-29-0630-5
EAN: 9789722906302
Sinopse
No século XII, na Aquitânia…  Jaufré Rudel, príncipe trovador, cansado da sua vida de prazeres, aspira a um amor puro, distante.  Canta uma mulher perfeita, abstracta.  Mas um peregrino chegado do Ultramar afirma que essa mulher existe, e que a encontrou: é Clémence de Tripoli.  Jaufré, louco de amor, parte em busca desse “amor de longe”…
Um magnífico conto de amor e de morte, na tradição das grandes narrativas orientais.

Quando o tempo para as leituras escasseia, como é agora o meu caso, uma peça de teatro vem sempre a calhar.  O ritmo de leitura é sempre mais acelerado e a acção restringe-se ao que é necessário, ainda que o autor nos dê sempre os dados necessários para visualizarmos o cenário e as personagens tal qual ele as idealizou.  Por isso, depois de terminado “O Leitor” (do qual ainda não falei aqui), peguei nesta peça de Maalouf, comprada dias antes, por 2€, nos saldos da Fnac.
Jaufré é um príncipe sonhador, que canta os seus sonhos e anseios.  Farto de uma vida cheia de nada, deseja mais que tudo encontrar aquele amor verdadeiro e puro que se habituou a declamar.  Mas, ai de si!, não há no Mundo mulher merecedora desse amor e dessas canções.  Pois, para ele, tem de ser “bela, sem a arrogância da beleza, nobre, sem a arrogância da nobreza, piedosa, sem a arrogância da piedade”.  Quando se resigna à impossibilidade de tal Mulher existir, um Peregrino fala-lhe de uma mulher, exactamente assim, que viu nas suas viagens, “perto da Cidadela, (…) no domingo de Páscoa”.  Jaufré agarra-se à esperança da sua existência para assim a cantar a quem o queira ouvir.  Já o Peregrino, de volta às suas viagens, fala a Clémence (pois é assim que se chama a Mulher-Deusa que rouba o sono a Jaufré) de um Trovador que, no Ultramar, a canta e elogia nas suas trovas.  Clémence, demasiado conhecedora das suas faltas, sabe-se pouco merecedora das palavras do trovador, ainda assim elas tocam-na e ela apaixona-se, se não pelo homem, pelo menos pela visão que ele de si faz.  No final da peça, vemos Jaufré a bordo de um navio, acompanhado pelo Peregrino, ao encontro da sua amada (Clémence aterrorizada de que ele a descubra “apenas” humana), apenas para, à boa maneira de Camilo Castelo Branco, morrer à costa de Tripoli, antes de poder ver a sua Musa.
A peça lê-se muito bem…  rapidamente e de forma compulsiva.  No entanto, no fim, ficou-me uma ideia:  acredito que, não tivesse Jaufré morrido, a relação entre os dois teria continuado, apenas para ele se ressentir contra a “humanidade” dela e ela se fartar dos idealismos dele… 




Nota 3

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Parabéns, "Charlie"!




Hoje foi o bicentenário do aniversário de Charles Dickens e apercebi-me, no fim do dia, que ainda não dediquei nenhuma entrada neste blog a este vulto da literatura mundial.  Charles Dickens entrou na minha vida, com cerca de 10 anos, trazido pela mão de Louisa May Alcott.  Como tantas outras meninas, li as Mulherzinhas, tentando encontrar nas minhas imperfeições algo de valioso, como acontece com as irmãs March.  As raparigas da história, fãs das letras e do teatro, mencionam no livro os Pickwick Papers (a.k.a. The Posthumous Papers of the Pickwick Club).  Admito que, na minha ignorância, a princípio pensava ser Piquenique Papers, e a curiosidade fez-me procurar essa obra que inspirava as jovens.  Venho, por isso, dar o meu contributo neste dia...  Agradecer a Dickens a criação de Samuel Pickwick, Nathaniel Winkle e Augustus Snodgrass (Pickwick Papers), Ebenezer Scrooge (A Christmas Carol), John Harmon e Noddy Boffin (Our Mutual Friend) e outras tantas "pessoas" que, estou certa, farão parte da minha vida literária...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Senhor das Almas




O Senhor das Almas
de Iréne Némirovsky
Editor: Dom Quixote
ISBN: 9789722032384



Sinopse

A autora ressuscita com precisão o turbilhão mundano e intelectual da época.
Nice, 1920. Um jovem médico faminto, Dario, aceita praticar um aborto clandestino numa flamejante aventureira nova-iorquina para evitar a degradação de Clara, sua mulher, e do seu bebé.
Uma solução que permite a este filho de vendedor, vagabundo e meteco de sangue grego e italiano, sobreviver apesar da indiferença da clientela chique da cidade.
Multiplicando os expedientes durante os anos passados em Nice, Dario tem a ideia de génio que o ajudará a forçar o seu destino: pervertendo com uma intuição maquiavélica a teoria psicanalítica em voga, torna-se um charlatão da moda, estranho senhor das almas deslumbrado com a sua perigosa ascensão social...


Sabem aquela sensação de antecipação que antecede a leitura de um livro há muito aguardado?  Foi assim que iniciei a leitura desta obra.  Queria ler a "Suite Francesa", mas achei por bem começar por obras de menor envergadura da autora.  Primeiro li "O Baile", que mais não é que um livro de bolso sobre uma rapariguinha caprichosa que decide boicotar o baile dos seus pais por não lhe ser permitido assistir ao mesmo.  Lê-se bam, mas, quanto mais não seja pelo tamanho, nunca o consideraria um pilar da literatura.  Entretanto chegou a vez deste "Senhor das Almas".
Dario, o personagem central da obra, traz na cor da pele, no sotaque e, principalmente, na pobreza, a sua condição de estrangeiro em terras francesas.  No início do livro sabemos que Dario e Clara, sua mulher, receberam na miséria o milagre da vida, acabando de ter um filho.  Por este motivo, Clara está, ainda, no hospital e Dario, mais do que o habitual, sente a urgência de ter dinheiro para alimentar a família para que não volte a passar pela provação de perder um filho para a fome.  Este homem, médico de profissão, em desespero acede a por os escrúpulos de parte e fazer uma interrupção de gravidez à nora norte-americana da sua senhoria russa.  É este o primeiro passo para o seu desprendimento moral e consequente ascensão social.  É, assim, que irá, também, ganhar o cognome de "Senhor das Almas"...  Um homem que, por mais que os doentes queiram abandonar, os atrai e prende na sua teia psicológica, como se as almas dos farrapos humanos que o procuram lhe pertencessem.  O ouro começa a brilhar-lhe nos dedos, as casas sucedem-se, cada vez mais opulentas, as mulheres trocam o asco pelo desejo...  Só o filho, a razão que ele dá para justificar todas as acções que toma, o olha com o nojo no olhar que conheceu nos seus tempos de penúria.  Clara, a ponte entre os dois homens da sua vida, ama o filho e agradece o milagre de o ver nascer e crescer, cada vez mais forte, ao contrário do irmão morto em bebé, mas é ela a personificação dos "escravos" do Senhor das Almas.  Adora o marido e aceita as suas ideias, as suas justificações e os seus devaneios sem o questionar...  E assim será até à sua morte.

Gostei do livro, que se lê facilmente apesar do tópico de grande carga psicológica...  Talvez por isso  a nota final não seja tão boa quanto devia...  Falta qualquer coisa,


Nota: 3