terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Em terra de cegos...



Ensaio sobre a cegueira
José Saramago
Editoral Caminho
ISBN 9789722110211



Sinopse

Uma cidade é devastada por uma epidemia instantânea de "cegueira branca". Face a este surto misterioso, os primeiros indivíduos a serem infectados são colocados pelas autoridades governamentais em quarentena, num hospital abandonado. Cada dia que passa aparecem mais pacientes, e esta recém-criada "sociedade de cegos" entra em colapso. Tudo piora quando um grupo de criminosos, mais poderoso fisicamente, se sobrepõe aos fracos, racionando-lhes a comida e cometendo actos horríveis. Há, porém, uma testemunha ocular a este pesadelo: uma mulher, cuja visão não foi afectada por esta praga, que acompanha o seu marido cego para o asilo. Ali, mantendo o seu segredo, ela guia sete desconhecidos que se tornam, na sua essência, numa família. Ela leva-os para fora da quarentena em direcção às ruas deprimentes da cidade, que viram todos os vestígios de uma civilização entrar em colapso. A viagem destes é plena de perigos, mas a mulher guia-os numa luta contra os piores desejos e fraquezas da raça humana, abrindo-lhes a porta para um novo mundo de esperança, onde a sua sobrevivência e redenção final reflectem a tenacidade do espírito humano.



O Homem vive restringido pelas regras que a sociedade lhe impõe. O seu desejo de aceitação e de pertença é tal que, frequentemente, adopta uma personagem pública, em contraste com a pessoa que realmente é, de forma a ser aceite. Essa hipocrisia social é aceite e, até, incentivada, como uma das formas de sobrevivência a que a Humanidade teve de se submeter ao longo dos séculos. Somos quem somos, mas somos julgados por quem aparentamos ser... Mas, e se tivéssemos a liberdade de nos saber invisíveis a quem nos rodeia? Continuariamos a viver no nosso mundo do faz de conta ou acabaríamos por nos render à bestialidade do que somos? Saramago responde a estas perguntas neste magnífico livro. Sem a pressão de se sentir sob um microscópio social, rapidamente a sociedade esqueceria as regras pelas quais se regia e daria lugar aos instintos primitivos que, na realidade, a habitam. Sem o saberem, todos são observados por uma testemunha... Uma mulher que, escapando à epidemia que cegara todo o Mundo, observa aterrorizada enquanto a realidade em que vivera dá lugar a um novo mundo... imundo, imoral e bárbaro. É através dos seus olhos que nos vemos, como realmente somos.


"Este livro é francamente terrível, com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é, simultaneamente, uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."

José Saramago

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