terça-feira, 15 de março de 2011

E é amar-te assim, perdidamente...


Florbela Espanca - A Vida e a Alma de uma Poetisa
José Carlos Fernández
Edições Nova Acrópole
ISBN - 978-972-9026-84-3
EAN - 9789729026843


Sinopse:
"Ecos longínquos de ondas...  de universos...
Ecos de um mundo...  de um distante Além,
De onde eu trouxe a magia dos meus versos!"
Florbela Espanca, "Sou Eu!", in Charneca em Flor
Nestas páginas, o leitor encontrará um retrato da vida e da alma da maior poetisa portuguesa.  As cartas, o seu Diário, os contos que ela escreveu, os acontecimentos que viveu, factos objectivos na teia do mundo, permitem-nos conhecer melhor esta inspirada artista da palavra, Florbela Espanca.
E, ainda, penetrar no labirinto e no jardim encantado das suas intimas vivências e imaginação: Claustro de Saudade e Beleza do qual nunca sairemos iguais a quando entramos.  Pois Ela reina nele como puro símbolo e sacerdotisa do Eterno Feminino, nesse Amor inextinguível por tudo e por todos, que converteu nas jóias alquímicas e transfiguradoras de seus poemas.


Já alguma vez se apaixonaram literariamente? Um amor por aquele autor, ou autora, que se descobre quase por acaso e que nos acompanha ao longo dos anos? Eu, eterna apaixonada da palavra impressa, tenho tido algumas destas paixões ao longo dos anos (graças a dEUS, é aquele tipo de amor que, ao contrário das relações pessoais, não exige monogamia). A primeira (que como diz a sabedoria popular, nunca se esquece) terá sido a Condessa de Ségur, rapidamente seguida da Enid Blyton… depois, Agatha Christie… Tolstoi… E, um dia, descobri a poesia (andava escondida na biblioteca do meu pai, tão perto de mim e, ao mesmo tempo, escondida entre centenas de títulos). Aí ganhei dois novos amores: Vladimir Maiakovski e Florbela Espanca! Não sei explicar o gosto que me fez apaixonar por estes dois poetas tão díspares, mas a verdade é que ambos falaram à minha sensibilidade. Florbela, quiçá considerada uma poetisa de “pouca monta” (leia-se baixa qualidade) cativou-me com os seus versos simples e sonetos despretensiosos… e, talvez, com o seu passado que, tal como o meu, teve origem em terras alentejanas! O livro que me conquistou, o supracitado pertence de “papai”, é uma versão belíssima, com fotografias soltas a imitar as antigas, a preto e branco com um rendilhado branco à volta. Isso contribuía, na minha mente artística de criança, para o namoro com a autora de “Velhinha” (um dos meus sonetos favoritos da autora):


Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente em mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa! ...”

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até o fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente ...
Já murmuro orações ... falo sozinha ...
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos ...

A sua vida, essa, dava, só por si, um livro (e, quem sabe, uma adaptação para novela de horário nobre). Nascida em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894, filha ilegítima de um homem que coleccionava empregos e que teve com outra mulher os filhos que não podia ter com a legítima, Florbela foi criada pelo pai e pela esposa (como sua madrinha) tendo, no entanto, só sido reconhecida como sua filha postumamente. Florbela tinha, ela própria, uma grande dose de socialmente incorrecto. Com seu irmão, Apeles, viveu um amor fraternal que muitos dizem ter ultrapassado a barreira do aceitável, havendo, inclusive, vozes que se ergueram para pronunciar a palavra proibida… incesto. O que não deixa margem para dúvidas, no entanto, é o extremamente depressivo estado em que Florbela se encontrava constantemente… Ao descobrir um edema pulmonar, em 1930, conseguiu com sucesso o que já antes tentara sem conseguir… suicidou-se. Tinha 36 anos.
Sei que já falei muito sobre este meu (sério) caso de amor… mas as paixões são assim… perdemo-nos nelas e nem notamos que nos monopolizam as conversas e a mente. Só posso deixar um conselho… Percam-se na nova biografia de Florbela, de José Carlos Fernández… Vale a pena o tempo dedicado!

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