A minha paixão pelos livros é assunto sério... e estranho!
Apaixonei-me sem saber ler uma letra... Via o meu pai (leitor ávido) de nariz enterrado num livro e, na minha cabeça de criança de 2 ou 3 anos, perguntava-me qual o fascínio. E assim, sem me dar conta, estava apanhada na teia da literatura.
Durante um tempo obriguei o meu pai, que, crédito lhe seja dado, tem a paciência de um santo no que toca a crianças, a ler-me a mesma história, noite após noite, até ter memorizado a história palavra por palavra, bem como quando virar a cara da página da esquerda para a da direita e quando voltar a página. E, quando tinhamos visitas, levava a cena o meu espectáculo... a peça do "olhem para mim que já sei ler sozinha!"
Ao mesmo tempo que aprendia o gosto de ler, descobria que a imaginação (alimentada por todas as histórias que obrigava a família a ler-me) dava os seus primeiros sinais. E assim, sem saber a forma de um "A", "B" ou "C", comecei a "escrever". Mais uma vez, o Santo (leia-se "Pai"), veio em meu auxilio. Pegava num molho de folhas A4, desenhava quadrados com estreitos rectangulos por baixo, e deixava-as comigo. Durante o dia eu imaginava as minhas histórias, criava heróis, vilões e enredos e, uma vez que não sabia escrever, desenhava as histórias nos quadrados. À noite o meu pai chegava do trabalho, cansado de dias muito para lá das 8h laborais diárias, e arranjava em si o espírito e a energia para se sentar ao meu lado e, comigo a ditar a história, escrevê-la cuidadosamente nos rectangulos inferiores com a sua bela letra de desenhador-projectista. Eu era feliz! Eu era escritora!
O gosto pela escrita mantém-se! E, ultimamente, as memórias destes primeiros passos como "autora" vêm-me frequentemente à memória. Com um filhote quase a fazer 10 meses, para o qual tenho o privilégio de criar histórias, tenho recordado mundos encantados em que duendes e fadas são uma constante, em que os cães e os coelhos se expressam num português correcto, em que os meninos são principes e vivem aventuras e onde, de cada vez que a imaginação ganha asas e as histórias brotam, eu sou uma menininha de 3 ou 4 anos, à espera que o pai chegue a casa para tomar nota das suas histórias!
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