Isto de se trabalhar no atendimento ao público tem o que se lhe diga... Nem todos possuem a diplomacia e a compustura necessárias para estar, todos os dias, em frente a um balcão... Mesmo os que têm a capacidade de se controlar, invariavelmente acabam por, num ou noutro dia, desejar poder despir a "farda" e responder enquanto indivíduos e não estatísticas. Eu sou uma dessas pessoas!
E depois...
Há dias assim...
Hoje acordei e, como sempre, tinha os minutos contados. Levantar, preparar-me, vestir-me, acordar o Pipoca, trocar fralda, dar biberon, trocar o babygrow da noite pela roupinha para o dia, levar a carga toda dele para o carro, pegar nele e na mala, fazer malabarismo com a chave da porta e a chave do portão e a chave do carro, pegar em nós e ir levar o Pipoca a casa dos meus pais antes de ir para a livraria. O Pipoca hoje estava do contra... Tudo era pretexto para brincar e o vestir, que por norma é uma tarefa relativamente rápida, tornou-se num trabalho hercúleo. Cheguei a casa dos avós já cansada e a suar... E ainda tinha pela frente um dia a descarregar e arrumar livros e a atender as pessoas que, privadas de um Agosto balnear, acabam a deambular pelos shoppings do País.
Mas...
Há dias assim...
Dos primeiros 10 clientes que atendi, 4 ou 5 eram uma delícia!!! Simpáticos, educados, agradáveis... Ouviam o que lhes dizia e fizeram-me acreditar que, para eles, eu era mais que a funcionária de colete que os guia à prateleira pretendida... Era a Raquel... A "jovem" apaixonada pela leitura e pelos livros, cuja opinião é válida, interessante, inteligente...
Foi como se tomasse um "comprimido espiritual", que me deu força, qual suplemento vitamínico, para o resto do dia.
Hoje, as costas doeram um pouco menos ao serem vergadas pelo peso dos livros. Hoje o relógio não era o inimigo a vencer para poder, rapidamente, ir ao encontro do meu Pipoca. Hoje as tricas do trabalho passaram-me ao lado. Hoje arrumei o móvel dos dicionários e do apoio escolar com um sorriso nos lábios.
Isto tudo porque...
Há dias assim...
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