terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Descobrindo José Emilio Pacheco




As Batalhas no Deserto
José Emilio Pacheco
Oficina do Livro (colecção Ovelha Negra)
EAN: 9789895551774
ISBN: 989-555-177-0


Sinopse:

Uma história de amor impossível que vendeu mais de meio milhão de exemplares só no México.
Esta é a história de amor impossível, narrada numa obra que ainda guarda espaço para abordar temas como a corrupção social e política, a modernização do México ou o desaparecimento do país tradicional. Ao mesmo tempo que vai resgatando memórias de uma cidade que ama intensamente - mas que aqui recria sem nostalgia e denuncia de uma forma implacável -, através do amor de Carlitos, o autor aprofunda a cumplicidade com os leitores, numa linguagem simples, depurada, comovente e aberta a várias leituras e interpretações. Traduzida em inúmeras línguas, só no México As batalhas no Deserto vendeu mais de meio milhão de exemplares.

"Mais do que uma comovente história de amor impossível, um texto singular, que já faz parte da história da literatura latino-americana."
Antonio Sarabia, in Prefácio


Apesar de ter estudado Línguas e Literaturas Modernas na Universidade e de trabalhar numa livraria tenho de admitir que, até à chegada deste livro à loja, nunca tinha ouvido falar neste autor. Ao arrumar os livros, no entanto, tive a oportunidade de ler a sinopse da obra, que me agradou, o que me levou a querer saber mais sobre José Emilio Pacheco. Descobri então que, tendo nascido em 1939, é hoje considerado um dos poetas mais consagrados do méxico e que, para além do presente livro, escreveu mais quatro romances e/ou conjunto de contos.

Acabei por comprar o livro... E li-o rapidamente... Apesar de sentir dificuldade em compreender e fazer a ligação com algumas das passagens que fazem referência não só à realidade mexicana como também às referências infantis/juvenis dos anos 5o. Sinto que, provavelmente, o meu pai irá rever-se e perceber melhor a realidade retratada no livro do que eu alguma vez poderei. Ainda assim, gostei do livro e senti-me imersa numa maré de nostalgia e de memórias de uma inocência perdida que se sente na voz do personagem principal, Carlitos.

A história é simples e despretenciosa, como deve ser toda a infância. Carlitos, já adulto, relembra a sua infância e juventude no seio de uma família de classe média no México. Tendo perdido dinheiro com o avanço do progresso (o pai, dono de uma fábrica de sabão, vê o negócio ir por água a baixo com a chegada dos detergentes em pó) a situação familiar deteoria-se e cada um procura conforto nas únicas coisas que lhe dão prazer... O pai dedica-se a aprender o Inglês (o idioma do futuro), a mãe entrega-se à fé e o irmão ao sexo e ao crime. Carlitos, esse encontra refúgio na sua primeira paixão. O que nada teria de estranho, não fora o objecto do seu amor juvenil a mãe do seu melhor amigo (e amante de uma das figuras mais proeminentes do governo vigente da altura). As repercurssões do seu inocente acto vão marcá-lo até à idade adulta.

Gostei do livro e de ter tido a oportunidade de conhecer um novo autor.


Nota 3


Dois poemas de José Emilio Pacheco:

Indeseable

No me deja pasar el guardia.
He traspasado el límite de edad.
Provengo de un país que ya no existe.
Mis papeles no están en orden.
Me falta un sello.
Necesito otra firma.
No hablo el idioma.
No tengo cuenta en el banco.
Reprobé el examen de admisión.
Cancelaron mi puesto en la gran fábrica.
Me desemplearon hoy y para siempre.
Carezco por completo de influencias.
Llevo aquí en este mundo largo tiempo.
Y nuestros amos dicen que ya es hora
de callarme y hundirme en la basura.



Memoria

No tomes muy en serio
lo que te dice la memoria.
A lo mejor no hubo esa tarde.
Quizá todo fue autoengaño.
La gran pasión
sólo existió en tu deseo.
Quién te dice que no te está contando ficciones
para alargar la prórroga del fin
y sugerir que todo esto
tuvo al menos algún sentido.



Tradução (à minha responsabilidade)

Indesejável

O guarda não me deixa passar.
Ultrapassei o limite de idade.
Venho de um país que não existe mais.
Os meus papéis não estão em ordem.
Falta-me um carimbo.
Preciso de uma outra empresa.
Não falo a língua.
Não tenho conta no banco.
Não passei no exame.
Eles acabaram com o meu posto na grande fábrica.
Estou desempregado, agora e para sempre.
Não tenho cunhas.
Estive muito tempo aqui neste mundo.
E os nossos chefes dizem que é hora
de cale-me e afundar-me no lixo.



Memória

Não leves muito a sério
o que a memória te diz.
Talvez não tenha existido aquela tarde.
Talvez tudo fosse ilusão.
A enorme paixão
só existiu no teu desejo.
Quem disse que não estás a contar histórias
para aumentar o sentido de ordem
e sugerir que tudo isto
teve ao menos algum sentido.

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