(apesar de ter lido a edição comemorativa da Expo '98, deixo aqui os dados da edição ainda à venda)
O Conto da Ilha Desconhecida
de José Saramago
Editor: Editorial Caminho
ISBN: 9789722123365
Peguei neste livro, em casa dos meus pais, em dia de consulta pediátrica do rebento. Esquecera-me de levar um livro e com a experiência das salas de espera, achei melhor ir prevenida. Este era ideal: curto e leve! Mas, nestas coisas, parece que fazem de propósito: nesse dia fomos logo chamados à enfermeira e entrámos da sala directamente para o consultório. O livro ficou esquecido no saco do Alexandre até à semana passada, em que, estando de férias, lhe fui dar vistoria. Finalmente mergulhei no meu primeiro Saramago!
"Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei
tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo
o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a
ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se
desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava,
mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas
começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao
primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia
maneira de se calar."
Assim começa este pequeno conto, que, apesar da curta dimensão, conseguiu encher-me as medidas! Não sei explicar do que gostei mais: se do retrato irónico (e, no entanto, tão real) da burocracia de um País; se da teimosia salutar do "homem" em perseguir um sonho que lhe diziam inatingível; se da constatação de que, quando menos esperamos, compreendemos que não estamos sós; se da última frase do livro "Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à
procura de si mesma." (sei que pode parecer estranha, esta minha última opção, mas acho sempre que um livro que acabe de forma a que pensemos "que belo final!" é um livro a que, mais facilmente, retornaremos).
Não sei o que me fez gostar tanto deste conto (logo eu, que tenho um historial tão complexo com este género), mas gosto de pensar que tenha sido a escrita de Saramago... Pelo sim, pelo não, já planeio novos assaltos à estante paterna!
Nota 4
Acredito que quando começares, não vais parar enquanto não leres todos
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