terça-feira, 29 de maio de 2012

Cães Pretos... ou a Maldade Humana?


Cães Pretos
de Ian McEwan
Editora: Gradiva
ISBN: 9789726623137


Sinopse:

Dois jovens membros do Partido Comunista, June e Bernard, conhecem-se em Londres em 1946. Apaixonam-se perdidamente e casam-se. Durante a lua-de-mel em França, June sofre uma experiência que altera a sua vida: descobre a religião e acaba por renunciar ao partido. Cinco anos depois, June e Bernard Tremaine separam-se. Nunca chegam a divorciar-se nem a envolver-se romanticamente com outras pessoas. Embora as convicções vão enfraquecendo lentamente, Bernard mantém-se no partido até 1956. June e Bernard voltam a aparecer na história apenas 40 anos mais tarde, quando o seu genro, Jeremy, investiga a história pessoal e intelectual de ambos.
Religião versus razão. A memória de um versus a memória de outro. Amor versus existência diária. Sacrificar o individual pelo bem das massas. É disto que nos fala "Cães Pretos".
Tendo como cenário a queda do Muro de Berlim, Cães Pretos recua no tempo até à Europa do pós-guerra e mostra como a guerra e os seus demónios mudaram o destino de uma família. Metafórica e literalmente, os cães pretos do título percorrem a paisagem deste romance – a Europa e a família Tremaine.
Cães Pretos mostra as qualidades e capacidades literárias de Ian McEwan, que desenvolve improváveis e excepcionais combinações de suspense, ética, filosofia e ideologia política e religiosa. Noutras mãos, semelhante mistura poderia tornar-se letal; nas mãos de McEwan, é simplesmente inebriante.

Críticas de imprensa
«Uma prosa magnificamente evocativa [...] A visão da Europa transmitida por este romance é aguda e vibrante, vívida na sua complexidade moral.»
NEW YORK TIMES BOOK REVIEW



Quando uma leitora compulsiva demora cerca de um mês a ler um livro de 181 páginas, isso não é muito abonatório para o livro em questão...
Este foi um exemplo perfeito duma situação que, esporadicamente, surge na minha vida de leitora:  apaixono-me por uma sinopse, idealizo a história e, quando finalmente me sento a lê-la, percebo, de forma egocêntrica, que preferia a minha versão.
A leitura breve da contracapa apresentou-me um cenário com todos os ingredientes necessários para uma leitura "inebriante" (como se lê na sinopse em cima):  um jovem casal conhece-se durante a Segunda Guerra Mundial, apaixona-se, partilham ideais de justiça e comunhão que os levam a ingressar no Partido Comunista (deviam ser 2 dos 10 comunistas britânicos - ok, talvez seja um exagero...  talvez 12!), no fim da guerra casam, partem em lua-de-mel, ela descobre a religião, ele não abdica dos ideais políticos, abre-se um fosso entre os dois que, ainda que continuando a amar-se, acabam separados...  E onde, perguntam vocês, entram os cães pretos do título?  São eles, com o seu aparecimento, que vão despoletar a religiosidade da mulher.
Ora bem...  Com um enredo destes, porque é que a leitura desta obra foi tão (penosamente) longa?  Porque Ian McEwan se alongou...  penosamente... 
O livro começa com a apresentação do narrador, Jeremy, genro do casal protagonista.  Ficamos a saber que é órfão.  Tem uma irmã.  Tem uma sobrinha.  Tem um cunhado, de quem não gosta.  Tem amigos que não suporta.  Inveja os pais dos amigos e procura a sua companhia.  Vai para a Universidade deixando para trás a única pessoa que ama, a sobrinha.  Nisto...  Está casado.  Encontra-se com a sogra, doente, para ajudá-la a escrever as memórias da sua vida.  (Seria de esperar que soubessemos o que está por trás da vida da mulher, certo?  ERRADO!  Arrasta-se e, mesmo quando ela morre, não sabemos "o que" são os cães pretos).  De seguida acompanha o sogro a Berlim aquando da queda do muro (cenário idílico para um ex-comunista).  Aguardamos, pacientemente, a explicação dos cães pretos pela boca do sogro...  ERRO!  O homem recusa-se a falar da mulher que faleceu.  Só no último capítulo, que começa na página 141, é que nos é dada a conhecer, finalmente, a história de June e Bernard, na forma do relato escrito por Jeremy baseado nas notas retiradas das conversas com a sogra.  Só aí, finalmente, a história ganha ritmo e interesse.  Só aí o livro se torna apetecível e "inebriante".
Dei comigo a pensar algo completamente oposto ao que é normal em mim...  Por norma, ao ler um livro de contos, penso "porque é que o/a autor/a não investiu um pouco mais de tempo e trabalho e fez disto um bom romance?".  Desta vez pensei "porque é que o Ian McEwan não se limitou a escrever as últimas 40 páginas e a fazer um excelente conto?".
O último parágrafo salva-o de ser, na minha perspectiva, um mau livro...  Mas não é suficiente para fazer dele um livro bom!

Nota 3