Mostrar mensagens com a etiqueta Nota 3. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Nota 3. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Dar a palavra aos humoristas










Gosto muito de ler biografias, mas, por norma, fico-me por membros da realeza ou autores que já não estão entre nós.  No entanto recentemente dei comigo a ler a autobiografia de 3 humoristas britânicos (é raro ver televisão portuguesa, pelo que tomo conhecimento de pessoas que, de outra forma, nunca ouviria falar).


1 - A primeira autobiografia é "Bonkers - my life in laughs" da Jennifer Saunders (isbn13: 9780241967263, format: Paperback, Penguin). 
Conhecida do público português pelas séries "French and Saunders" e "Absolutely Fabulous", era, mais que a obra, a mulher em si que me fascinava.  Sempre que a via sem ser a encarnar um "boneco" ficava fascinada com o que dizia e a maneira que demonstrava ser.  E, apesar de ela ser uma comediante, não estava à espera de rir ao ler este livro.  Mas a verdade é que, quando cheguei à parte em que ela transcreve a sua participação num filme francês (depois de ter mentido e afirmado que dominava a língua) fez-me rir até às lágrimas...  Ainda bem que estava sozinha em casa!

Nota 4



2 - "Life and laughing - My Story" de Michael MccIntyre (isbn13: 9780141045672,  format: Paperback, Michael Joseph)
Se não conhecem o humor de Michael McIntyre, desafio-os a pesquisá-lo no Youtube...  e a verem só um clip!  A primeira vez que o fiz (uma noite em que o sono teimava em não chegar) às 6h da manhã ainda estava a rir, feita parva, em frente ao ecrã do computador.  Mesmo nas entrevistas que dá, Michael McIntyre consegue sempre fazer-me rir (experimentem a ida dele ao Top Gear).  Decidi ler a sua autobiografia para conhecer um pouco mais do homem por trás da comédia.  Gostei do livro, que é uma janela aberta para a sua vida e para as dificuldades que teve de ultrapassar antes de atingir o sucesso.  Michael dá esperança a todos os sonhadores!

Nota 4



3 - "Is it Just Me?" de Miranda Hart (isbn13: 9781444734164, format: Paperback, by Hodder & Stoughton).
Miranda Hart é uma humorista que aposta no humor à antiga (físico e baseado na sua natural falta de jeito - para a qual o seu metro e oitenta ajuda bastante), para arrancar gargalhadas ao público.  Deu, também, mostras da sua capacidade mais dramática com o seu papel em "Call the Midwife".  O livro é escrito em formato de diálogo entre a Miranda do Presente e o seu "Eu" Passado...  A sua aprendizagem ao longo dos anos, a sua evolução e os seus conselhos...

Nota 3

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Manhãs Gloriosas





Manhãs Gloriosas - Acordar com a TV nunca foi tão interessante
de Diana Peterfreud
Editor: Quinta Essência
ISBN: 9789898228420



Sinopse:
 
Notícia de última hora: a ambiciosa produtora televisiva Becky Fuller é despedida de um programa matinal de Nova Jérsia e a sua carreira começa a parecer tão deprimente como a sua vida amorosa.
Desesperadamente necessitada de um emprego, mas ainda assim cheia de um optimismo sem limites, Becky promete assentar bem os pés na terra e depara-se com uma oportunidade no Daybreak, um programa matinal que é gravado em Nova Iorque. Os péssimos níveis de audiência são apenas a ponta do icebergue: os produtores executivos raramente sobrevivem ao intervalo publicitário seguinte e as câmaras antiquadas deviam estar num museu.
Prometendo ao director da cadeia televisiva que é capaz de reverter a espiral descendente, Becky faz ao lendário apresentador Mike Pomeroy uma oferta que, por contrato, ele não pode recusar. Acrescente Pomeroy com êxito à equipa, mas ele recusa-se a participar nas reportagens mais lamechas de Daybreak e em rubricas sobre celebridades, meteorologia, moda e artesanato. Além do mais, antipatiza imediatamente com a sua igualmente difícil co-apresentadora, Colleen Peck, e tempos vencedora de um concurso de beleza.
A única alegria na carreira de Becky é Adam Bennett, um colega produtor maravilhoso, mas a alucinação de Daybreak vem dificultar o seu incipiente romance. À medida que a química entre Mike e Colleen no ar se torna mais explosiva a cada dia, Becky é forçada a lutar para salvar a sua vida amorosa, a sua reputação, o seu trabalho, e, finalmente o próprio Daybreak.





Bem, na verdade gostaria de lhe dar um 3,5 mas, à falta de meios pontos, tenho de me resignar com o 3.

Andava numa fase em que me apetecia ler algo leve, que me permitisse abstrair do trabalho ao mesmo tempo que não me fizesse pensar... Teria de ser algo que, acaso a leitura fosse interrompida pelo meu filhote de 2 anos, eu não perderia o fio à meada. Só havia um problema: não sou grande fã de literatura light e não acho piada às histórias "boy-meets-girl".

Nem de propósito, ao fazer as compras do mês, encontro este livro no hipermercado com 60% de desconto. Pensei "mesmo que não goste, o estrago não é muito grande". E, admito, o enredo passado nos bastidores dos programas informativos da manhã (ou, mais que informativos, de entretenimento) apelaram à (quase) jornalista que há em mim...   (note to self: tenho mesmo de acabar os trabalhos finais e trazer o Diploma para casa!!!)

Gostei do livro, que pode, sei-o bem, enquadrar-se no tão detestado estilo light.

A ideia de uma Produtora jovem e inexperiente, desistente universitária, que vive para o emprego mas que acaba despedida por falta de qualificações escolares atraiu-me. O relato de como conseguiu novo emprego e teve de lutar e suar para se provar (aos outros mas, também, a si própria), que teve de convencer um conceituado jornalista a ingressar no seu programa apenas para o ver afundar ainda mais as já de si fracas audiências para, com isso, a obrigar a dar, ainda mais, o litro fez acender em mim a chama do orgulho pessoal de quem não quer deixar o curso a meio. E, claro, o final feliz faz-nos acreditar que a seguir à tempestade vem a bonança (ainda que só por 10 minutos).

E, para quem gosta da temática "girl-meets-boy", claro que também a vai encontrar aqui, não fosse este um livro baseado numa comédia (romântica?)

E, para quem já tanta vez leu um livro aliciada por um filme nele baseado, devo admitir que provavelmente vou acabar por ver o filme que deu origem a este romance... Nem que mais não seja para ver o Harrison Ford no papel do cáustico e irritante Mike Pomeroy.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A grande Arte






A grande arte
de Rubem Fonseca
Editor: Sextante Editora
ISBN: 9789720071514
 
 
Sinopse
 
«O assassinato de duas prostitutas, no Rio de Janeiro, que, de início, parece obra de um maníaco sexual, abre uma caixa de Pandora de onde vão brotando, no decorrer de uma ação trepidante, as complexas ramificações de um tenebroso sindicato do crime. A história passa-se em boîtes e bares sórdidos, em sumptuosas mansões do Rio, em vilarejos da fronteira entre a Bolívia e o Brasil, onde reinam a cocaína e o crime, bem como na interminável viagem de um comboio que percorre metade do Brasil com couchettes que rangem sob o peso de casais fazendo sexo.»Do posfácio de Mario Vargas Llosa.
 
 
 
 
O início foi muito promissor... O ritmo, a sequência, o estilo da narrativa; tudo isso contribuiu para que, no princípio do livro, a sensação fosse quase a de se estar a assistir a um filme (tendo em conta que o personagem principal/narrador é um advogado com pretensões a detective, veio-me frequentemente à cabeça a imagem de Warren Beatty enquanto Dick Tracy e a minha mente reportava a acção para os anos 40/50 quando, na realidade, se passava nos anos 80). 
Mas depois, com a entrada na segunda metade do livro, senti que a história perdeu muito... Perdeu aquela rapidez sequencial que lhe conferia o ritmo, perdeu o interesse que nos fazia ansiar pela página seguinte, perdeu, até, a alma da personagem principal que, a partir daí, nos falava enquanto espectador de outras personagens e não como parte integrante da acção.
Gostei do livro, mas senti que faltava continuidade ao estilo inicial e que a história ficaria a ganhar se, no final, houvesse uma surpresa que nos fisesse pensar que, afinal, as coisas não eram bem como pensávamos.
 
 
Nota 3

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Banana Yoshimoto




Lua-de-mel
de Banana Yoshimoto
Editor: Cavalo de Ferro
ISBN: 9789896230456
 
 
Sinopse
Manaka e Hiroshi conhecem-se desde pequenos. Cresceram juntos, tornaram-se cúmplices, confidentes e casam-se ainda muito jovens. O seu amor foi construído sobre um passado em comum, mas as suas personalidades são muito diferentes. Manaka é serena e vive o seu jardim de forma profunda e meditativa, enquanto Hiroshi continua assombrado por traumas familiares. Hiroshi sofre a perda do avô e o casal decide então partir numa segunda lua-de-mel para a Austrália, uma viagem que lhes vai reservar surpresas, reencontros inesperados e a forte magia dos pequenos nadas. Banana Yoshimoto envolve o leitor no romance de dois jovens cujo amor e inocência vai chocar com as mais torpes manifestações do género humano.




Na verdade, gostaria de poder dar uma nota 3,5... A história deste pequeno livro, ainda que não sendo "estrondosa" é de uma meiguice e está escrita numa prosa poética que me embeveceram. Banana Yoshimoto fala-nos da relação de um jovem casal, Manaka (a narradora) e Hiroshi. Tendo-se conhecido na infância, à custa de serem vizinhos, cedo criaram uma empatia que os fez apreciar a companhia um do outro, incluindo aqueles momentos de silêncio que, quando juntos a alguém que não se ama, podem ser embaraçosos. Hiroshi, mais calmo e introvertido que Manaka, vive sozinho com o avô desde que os pais o abandonaram ainda pequeno para ingressarem numa seita religiosa nos EUA. Com receio de que os progenitores do jovem o possam mandar buscar, os dois arquitectam um plano: casar-se-ão e, desta forma, Hiroshi passará a fazer parte, formalmente, da família de Manaka. E o livro conta-nos como é este casamento, em que a noiva continua a viver com os pais e o noivo com o avô...
Ao ler o livro tive, frequentemente, a sensação de ler o relato de um primeiro amor inconsequente... Daqueles que, aos 4 anos, nos fazem corar ao dizer aos pais que "temos namorado". Parecia-me o relato inocente e assexuado de dois jovens amigos que se julgam apaixonados. Foi, por isso surpreendente, que Manaka revelasse que mantinham relações desde os tempos de escola...
Gostei bastante do livro e da escrita de Banana Yoshimoto... Só tive pena que a morte do avô de Hiroshi e a ida dos seus pais para os EUA (bem como as repercussões que essa deslocação teve) tomassem o lugar principal do romance, o qual seria, a meu ver, infinitamente mais rico se se explorasse mais a relação entre os dois.




Nota 3

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Louca Por Compras




Louca Por Compras
de Sophie Kinsella
Editor: Livros d'Hoje
ISBN: 9789722037471
 
 
 
Sinopse
Quando as coisas se descontrolam - os descontrolados vão às compras. Rebecca Bloomwood é louca por compras, está enterrada de dívidas até aos ossos e passa o tempo a tentar escapar ao seu gerente de conta. A sua única esperança é tentar ganhar mais e gastar menos. O seu único consolo é comprar alguma coisa - só mais uma coisinha…
 
 
 
Tenho uma amiga (a Andreia) que, quando me propuseram escrever críticas literárias no meu emprego, me disse "realmente és a pessoa certa... só lês livros que são uma seca!"
A Andreia não lia... até que eu a chateei, criticando-a enquanto livreira que não lê.  Lá foi em busca do seu nicho literário e encontrou o nirvana: a saga "Louca Por Compras" da britânica Sophie Kinsella.  Depois de ela ME chatear, capitulei e comprei 2 livros da saga (em saldos!!!) e prometi redimir-me da minha secante vida literária.
Este é o primeiro volume da colecção.  Nele conhecemos Becky, uma rapariga de "coração puro" que não resiste a uma tabuleta de saldos.  Cada vez mais endividada, vai arranjando estratagemas cada vez mais absurdos para escapar aos credores.  Nisto, arranja um novo emprego e apaixona-se por um homem que é a sua antítese.
É um livro light, que se lê bem e que, ao contrário da crença da Andreia, pertence a um género do qual já li uns títulos, há mais de 15 anos, quando o boom da "chick-lit" chegou a Portugal, com os "diários de Bridget Jones".
 
 
Nota: 3
 
 
 
 
Louca Por Compras dá o Nó
de Sophie Kinsella
Editor:  Dom Quixote
ISBN: 9789722026956
 
 
Sinopse
Pela primeira vez na vida de Becky Bloomwood, as coisas estão a correr de feição: tem um emprego de sonho, como personal shopper (gasta o dinheiro dos outros e ainda lhe pagam para isso), vive com o namorado, Luke, num apartamento fabuloso em Manhattan e abriram mesmo uma conta bancária conjunta, apesar de não chegarem a acordo acerca de uma saia Miu Miu ser ou não considerada despesa de manutenção da casa.
 
 
 
Mais uma vez, um livro que se lê "bem" (não exige grande capacidade de concentração ou que pensemos sequer), mas que quase se esquece em pouco tempo. A trama é facilmente resumida:  Becky vai casar, Becky fica indecisa entre um casamento familiar na Inglaterra ou um aparatoso casamento em N.Y., Becky vai às compras, Becky mete-se em apuros, Becky arranja uma solução.  The End!
 
 
Nota: 3

sábado, 16 de junho de 2012

Uma Casa-Comboio com encontro marcado... na gare da memória


A Casa-Comboio
de Raquel Ochoa
Editor: Gradiva Publicações
ISBN: 9789896163600


Sinopse

Uma família indo-portuguesa. Um século de história. Quatro gerações que evocam 450 anos de aventura mítica, nos quais a Índia longínqua era portuguesa. Em pano de fundo, a partida, o acaso e a sorte de quem se vê constantemente obrigado a fazer as malas, o desenraizamento, a inquietação, o inesperado, a imprevisibilidade dos destinos que se cruzam. A imagem dada pelo título é elucidativa: uma casa em movimento. Uma beleza poética singular. Uma verdadeira revelação.
 Este foi, uma vez mais, um caso em que (quase) me arrependi de ter uma escala de avaliação tão linear.  Gostaria de lhe dar mais meio ponto que o que vou dar.  Mas comprometi-me, no início deste blog, a dar notas "redondas" e assim vou continuar...  é que me conheço bem, e o sentimentalismo literário depressa me faria avaliar livros em 3,5; 4 e 1/3; 2 e 3/4.  E, ao contrário da escola, onde meio valor significava o arredondamento para a nota acima, neste blog tal não se verifica.

Mas, falando d' "A Casa-Comboio"...
Este livro tem andado a bailar-me nas mãos desde que primeiro chegou à loja.  Na altura foi, de imediato, um bestseller por, com ele, Raquel Ochoa ter sido a primeira vencedora do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís (2009).  Ássim que vi do que tratava decidi que o havia de ler.  É curioso...  Nunca me senti muito atraída pela Índia, mas já por 3 ou 4 vezes que leio livros sobre este país, dos quais gosto bastante...  Apesar do olhar cru e crítico que por norma deitam à vida social.  Este chamou-me a atenção por, quando se fala de ex-colónias, nos vir de imediato à cabeça os nomes de Angola, Moçambique, Guiné, mas tão facilmente se esquecer que Portugal deixou a sua marca na História Indiana e que, também de lá, recebeu retornados que se tornavam apátrias no "seu" próprio país.
Esta é a história da família Carcomo, do final do século XIX até ao início do século XXI.  Á História de homens e mulheres que formaram um país a milhares de quilómetros de distância.  De homens e mulheres que traziam no peito e na alma um País que, sendo seu, não conheciam.  É, também, uma história de amores, de encontros, de política e de esperança.
Gostei!
A história da família fez.me, frequentemente, sorrir por, nos pormenores magistralmente descritos pela autora, decifrar aquelas histórias que marcam todas as famílias e que, durante décadas, são relembradas qual façanhas heróicas...  ou anedotas particulares.
Gostei tanto, que gostaria de lhe dar um 4...  mas não posso.  A autora escreve, por entre a história dos Carcomo, partes da História de Portugal (para situar o leitor na época; para explicar acções/reacções das personagens; ou, apenas, para emprestar colorido à história).  E é aí, na minha opinião, que o livro perde um pouco.  Não que não ache importante essa parte.  Considero-a, até, essencial (não só porque Portugal acaba por ser mais uma personagem do livro, mas também porque gerações mais jovens - e aqui me incluo, descaradamente - não têm, muitas vezes, a noção do que era a realidade nacional durante grande parte do século passado).  O que me "entristeceu" (à falta de melhor palavra), foi o facto da abordagem ter sido tão díspare do restante tom do livro.  O livro trata de um assunto intimista, a família, e, no entanto, tive muitas vezes a impressão (ao ler as partes de História), que estava a estudar um manual escolar e não a ler um romance histórico.  Se a abordagem fosse menos escolástica e mais em termo com o restante feeling da obra, este seria um perfeito Nota 4. assim sendo...


Nota 3

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Primeiro Amor... Lido em Voz Alta!

 
 
O Leitor
de Bernhard Schlink
Editor: Edições Asa
ISBN: 9789724120096


Sinopse

Michael Berg, um adolescente nos anos 60, é iniciado no amor por Hanna Schmitz, uma mulher madura, bela, sensual e autoritária. Ele tem 15 anos, ela 36. Os seus encontros decorrem como um ritual: primeiro banham-se, depois ele lê, ela escuta, e finalmente fazem amor. Este período de felicidade incerta tem um fim abrupto quando Hanna desaparece de repente da vida de Michael.
Michael só a encontrará muitos anos mais tarde, envolvida num processo de acusação a ex-guardas dos campos de concentração nazis. Inicia-se então uma reflexão metódica e dolorosa sobre a legitimidade de uma geração, a braços com a vergonha, julgar a geração anterior, responsável por vários crimes. Perturbadora meditação sobre os destinos da Alemanha, O Leitor, é desde O Perfume, o romance alemão mais aplaudido nacional e internacionalmente. Já traduzido em 39 línguas, a obra foi adaptada ao cinema. Para além disso, este romance foi galardoado em 1997 com os prémios Grinzane Cavour, Hans Fallada e Laure Bataillon. Em 1999 venceu o Prémio de Literatura do Die Welt.

Críticas de imprensa:

"Podia fazer esta crítica numa única frase: brilhantemente pensado e escrito. Ficamos presos do princípio ao fim da história, primeiro para ver onde vai dar uma relação invulgar, mas cheia de ternura, e depois, na expectativa do reencontro anunciado entre os protagonistas. A ternura que unira os dois amantes nasce da simplicidade e do presente sem conhecerem o passado um do outro e sem os juízos de valor que esse olhar implicaria, sobretudo quando este passado implicava um papel activo em campos de concentração.
(...) Este é também um romance sobre a relação de amor entre uma mulher mais velha e um rapaz mais novo, e história de como, ao tentarmos proteger aqueles que mais amamos, podemos acabar por magoá-los de uma forma irreversível.
Um romance sobre o simples princípio de que todas as nossa acções, ou as nossas inacções têm consequências não só nas nossas vidas, mas também na daqueles que nos rodeiam. E isto pode afectar uma pessoa... ou o mundo inteiro.
Der Vorleser, no original, impossível de traduzir fielmente em português numa só palavra, significa aquele que lê alto para o outro. Deixo que descubram a importância deste pormenor."
Ana Vaz Pinto
 
 
 
Este foi outro livro que me ficou a pairar na ideia depois de ter visto o filme.
Acabei por o comprar em saldos, a 5€.  Dei por bem empregue o meu dinheiro, ainda que não me tenha agarrado tanto como os dois exemplares anteriores. 
Gostei que a resposta ao "porquê?" da relação entre Michael e Hanna não fosse tão óbvio como na adaptação cinematográfica (onde, muito antes do final, já tinha percebido o que se estava a passar), gostei da complexidade da relação entre os dois, gostei que o final fosse diferente do do filme...  Ou seja, gostei!...  mas não adorei. 
Está bem escrito, a história é interessante, o período conturbado...  Mas é, "apenas", um bom livro.  Não me marcou de forma especial e, apesar de o poder recomendar sinceramente a quem me pedir opinião, não me parece que venha a ser relido.
 
 
 
Nota 3

terça-feira, 29 de maio de 2012

Cães Pretos... ou a Maldade Humana?


Cães Pretos
de Ian McEwan
Editora: Gradiva
ISBN: 9789726623137


Sinopse:

Dois jovens membros do Partido Comunista, June e Bernard, conhecem-se em Londres em 1946. Apaixonam-se perdidamente e casam-se. Durante a lua-de-mel em França, June sofre uma experiência que altera a sua vida: descobre a religião e acaba por renunciar ao partido. Cinco anos depois, June e Bernard Tremaine separam-se. Nunca chegam a divorciar-se nem a envolver-se romanticamente com outras pessoas. Embora as convicções vão enfraquecendo lentamente, Bernard mantém-se no partido até 1956. June e Bernard voltam a aparecer na história apenas 40 anos mais tarde, quando o seu genro, Jeremy, investiga a história pessoal e intelectual de ambos.
Religião versus razão. A memória de um versus a memória de outro. Amor versus existência diária. Sacrificar o individual pelo bem das massas. É disto que nos fala "Cães Pretos".
Tendo como cenário a queda do Muro de Berlim, Cães Pretos recua no tempo até à Europa do pós-guerra e mostra como a guerra e os seus demónios mudaram o destino de uma família. Metafórica e literalmente, os cães pretos do título percorrem a paisagem deste romance – a Europa e a família Tremaine.
Cães Pretos mostra as qualidades e capacidades literárias de Ian McEwan, que desenvolve improváveis e excepcionais combinações de suspense, ética, filosofia e ideologia política e religiosa. Noutras mãos, semelhante mistura poderia tornar-se letal; nas mãos de McEwan, é simplesmente inebriante.

Críticas de imprensa
«Uma prosa magnificamente evocativa [...] A visão da Europa transmitida por este romance é aguda e vibrante, vívida na sua complexidade moral.»
NEW YORK TIMES BOOK REVIEW



Quando uma leitora compulsiva demora cerca de um mês a ler um livro de 181 páginas, isso não é muito abonatório para o livro em questão...
Este foi um exemplo perfeito duma situação que, esporadicamente, surge na minha vida de leitora:  apaixono-me por uma sinopse, idealizo a história e, quando finalmente me sento a lê-la, percebo, de forma egocêntrica, que preferia a minha versão.
A leitura breve da contracapa apresentou-me um cenário com todos os ingredientes necessários para uma leitura "inebriante" (como se lê na sinopse em cima):  um jovem casal conhece-se durante a Segunda Guerra Mundial, apaixona-se, partilham ideais de justiça e comunhão que os levam a ingressar no Partido Comunista (deviam ser 2 dos 10 comunistas britânicos - ok, talvez seja um exagero...  talvez 12!), no fim da guerra casam, partem em lua-de-mel, ela descobre a religião, ele não abdica dos ideais políticos, abre-se um fosso entre os dois que, ainda que continuando a amar-se, acabam separados...  E onde, perguntam vocês, entram os cães pretos do título?  São eles, com o seu aparecimento, que vão despoletar a religiosidade da mulher.
Ora bem...  Com um enredo destes, porque é que a leitura desta obra foi tão (penosamente) longa?  Porque Ian McEwan se alongou...  penosamente... 
O livro começa com a apresentação do narrador, Jeremy, genro do casal protagonista.  Ficamos a saber que é órfão.  Tem uma irmã.  Tem uma sobrinha.  Tem um cunhado, de quem não gosta.  Tem amigos que não suporta.  Inveja os pais dos amigos e procura a sua companhia.  Vai para a Universidade deixando para trás a única pessoa que ama, a sobrinha.  Nisto...  Está casado.  Encontra-se com a sogra, doente, para ajudá-la a escrever as memórias da sua vida.  (Seria de esperar que soubessemos o que está por trás da vida da mulher, certo?  ERRADO!  Arrasta-se e, mesmo quando ela morre, não sabemos "o que" são os cães pretos).  De seguida acompanha o sogro a Berlim aquando da queda do muro (cenário idílico para um ex-comunista).  Aguardamos, pacientemente, a explicação dos cães pretos pela boca do sogro...  ERRO!  O homem recusa-se a falar da mulher que faleceu.  Só no último capítulo, que começa na página 141, é que nos é dada a conhecer, finalmente, a história de June e Bernard, na forma do relato escrito por Jeremy baseado nas notas retiradas das conversas com a sogra.  Só aí, finalmente, a história ganha ritmo e interesse.  Só aí o livro se torna apetecível e "inebriante".
Dei comigo a pensar algo completamente oposto ao que é normal em mim...  Por norma, ao ler um livro de contos, penso "porque é que o/a autor/a não investiu um pouco mais de tempo e trabalho e fez disto um bom romance?".  Desta vez pensei "porque é que o Ian McEwan não se limitou a escrever as últimas 40 páginas e a fazer um excelente conto?".
O último parágrafo salva-o de ser, na minha perspectiva, um mau livro...  Mas não é suficiente para fazer dele um livro bom!

Nota 3

domingo, 29 de abril de 2012

Conta-me um conto...

A História do Limpador de Botas
de Charles Dickens
Editor: Estrofes & Versos
ISBN: 9789898292322

Excerto:

«Em que lugares tinha estado na mocidade?», repetiu ele quando lhe formulei a pergunta. Santo Deus!!, tinha estado em todos os lados! E que profissões exercera? Quase todas as que se pode ser! Se tinha visto muitas coisas? Certamente. Eu mesmo diria isso, posso assegurar, se soubesse de um vigésimo do que lhe acontecera na vida. Tanto que seria muito mais fácil para ele falar do que não vira do que daquilo que vira. Muito mais fácil."


Voltei a dar um passeio (desta vez curtinho) pelo País dos Contos.  Acredito que "água mole em pedra dura..."  Ainda vou adorar o género!  Como não quero dar um passo maior que a perna, ou, como dizem os ingleses, acho que devo começar com "baby steps", adquiri alguns volumes da mini-colecção de contos da Estrofes & Versos.  Primeiro porque os olhos também comem e os livros são um mimo:  pequeninos (10x15), em papel reciclado, e todos com o mesmo grafismo; segundo porque são todos de autores conceituadíssimos e por quem tenho grande admiração (se bem que lá pelo meio veio um do Kafka que, desde a sua Metamorfose há uns anos atrás, me ficou entalado na goela).
Comecei a "degustação" da minha nova colecção com este "A História do Limpador de Botas", do nosso amigo Dickens.  O livro é composto por três contos: o que dá o título ao livro, seguido de "A História de Ninguém" e, por fim, "Entrar na Sociedade".  E foi esta, curiosamente, a ordem pela qual gostei deles.  Gostei muito do relato do limpador de botas, sobre a tentativa de fuga e casamento de duas crianças de 8 anos.  Acho que a pureza de sentimentos, os idealismos, sonhos e facilidades próprios da infância (ou, pelo menos, de como esta deveria ser), foram magistralmente retratados pelo autor.  Os dois contos seguintes são vedadas críticas sociais:  o primeiro poderá ser visto (foi assim que o escolhi entender) como uma crítica à classe política que, sendo-lhe dado o poder de governação e escolha sobre a vida das classes mais baixas por estas próprias, escolhem nada fazer e ainda as criticam quando algo corre mal.  O último fala sobre as falsidades da dita "boa sociedade" e dos jogos de interesses que a compõem.  Infelizmente, no "Entrar na Sociedade" achei o final muito confuso e nada em linha com o conto em si, pelo que este perdeu consideravelmente a minha simpatia.
Gostei deste mini-livro!  Gostei que esteja a ajudar a minha educação "conto-ral" e espero que os restantes volumes da colecção façam o mesmo!
Nota 3

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Confesso-me...


Crimes Exemplares
de Max Aub
Editor: Antígona
ISBN: 9789726082019


Sinopse:

Max Aub (1903-1972) é autor de mais de 40 títulos, entre os quais Crimes Exemplares, publicado em 1957 e que, em 1981, conquistou o Grand Prix de L'Humour Noir, em Paris.
São 87 confissões curtas, secas e directas, por vezes muito violentas, outras com uma certa beleza poética e bem-humoradas, feitas por quem praticou um crime contra a vida de alguém. São crimes de todo o tipo, por envenenamento, estrangulamento, etc., em que se constata não só a grande perversidade humana, mas também uma inacreditável ingenuidade.
Este livro mantém uma nada surpreendente actualidade, num mundo como o nosso, onde a violência real parece cada vez mais ficção. Esta edição especial de grande formato conta com 32 ilustrações a preto e encarnado.



Comprei há 2 dias, e já li.
De certa forma estou a tentar entrar, aos poucos, no mundo dos contos e já conhecia esta obra. É um marco da literatura de "humor negro", no qual cada página corresponde a uma confissão feita por um assassino que tenta, assim, justificar o seu crime. As "justificações/contos" não têm, por vezes, mais que uma frase, o que torna a sua leitura rápida e compulsiva.
Gostei e ri.
Gostaria de ter dado um 3,5 mas, na impossibilidade de dar meios pontos, e seguindo a coerência que tento que caracterize as minhas notas, não lhe poderia dar um 4.
Não o considero um pilar da literatura mas, isso sim, uma maneira agradável de se passar uns bons momentos (de sorriso nos lábios)... E poder-se-à exigir mais a um livro?

"Era de caras!  A única coisa que tinha de fazer era empurrar a bola, com o guarda-redes completamente fora da baliza...  E atirou-a por cima da trave!  Um golo que teria sido decisivo!  Nós estávamo-nos absolutamente nas tintas para esses miseráveis da Nopalera.  Se o pontapé que lhe dei o mandou para o outro mundo, espero que pelo menos lá aprenda a rematar como Deus manda."

Nota 3

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Mark Twain... em mini-doses



Contos Satíricos de Mark Twain
De Mark Twain
Editor: Guimarães Editores
ISBN: 9789726655114





Sinopse


Foi nos domínios do humorismo e da sátira que Mark Twain mais vincadamente deixou impresso o seu génio inamovível, porque assente num modo extravagante de encarar as coisas simples, num espírito sarcástico e numa inultrapassável capacidade para transmitir a chamada "cor local".


Contos incluídos:
- A nota de um milhão de libras
- Excertos do Diário de Adão
- O roubo do elefante branco
- Conto policial de fundo duplo
- Um romance medieval
- Como um limpa-chaminés salvou o imperador
- "1601" ou conversa junto da lareira social como sucedia no tempo dos Tudors
- História exemplar de Edward Mills e George Benton
- O passaporte russo demorado
- A senhora McWilliams e a trovoada
- O romance da donzela esquimó


Sou sincera…  Sempre fui um pouco “Anti-conto”.  Apenas por achar que, se a história de um conto for interessante e apetecível, com um pouco mais de trabalho daria um óptimo romance.  Costumo dizer que o “conto” é um pouco como a comida chinesa:  quando acabamos sentimo-nos satisfeitos mas, meia-hora mais tarde, já estamos de novo com fome!
Comprei este livro, como os últimos de que aqui falei, nos saldos e a escolha deveu-se, em parte, e como também já referi, ao pouco tempo que, enquanto mãe de um menino de 17 meses, tenho para me dedicar a mim e aos meus livros.
Pois bem…  li-o rapidamente, disso não há dúvida.  Se gostei?  Não sei bem…
Houve alturas, na leitura, em que dei comigo a pensar “ou isto está muito mal traduzido – o que, enquanto estudante de tradução sei ser uma hipótese bastante viável – ou faltam elos de ligação na escrita”.  Senti isso, mais profundamente, n’ “A Senhora McWillaims e a trovoada” e no “Conto policial de fundo duplo”.  A sátira que se prometia no título e que deveria emprestar um sorriso sarcástico ao meu rosto, só a senti n’ “O roubo do elefante branco”, nos “excertos do Diário de Adão” e na “História exemplar de Edward Mills e George Benton”. 
Os contos lêem-se…  mais ou menos.  Não posso dizer que gostei do livro!  Não posso dizer que o aconselharia a alguém!  Acabei por não ficar com ele pois, ainda por cima, ao chegar à página 207 das 224, a primeira página do último conto, “O romance da donzela esquimó”, descobri um defeito de edição (não imprimiram uma das linhas), defeito esse que se verificou em todos os exemplares da livraria quando o fui para trocar.  A bem da verdade…  não acho que tenha sido grande perda para a minha biblioteca.
A nota dada poderia, inclusive, ser mais baixa…  mas não consigo dar uma nota inferior ao homem que me ofereceu Tom Sawyer e Huckleberry Finn.


Nota 3

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

espiral descendente...


O Túnel
de Ernesto Sabato
Editor: Relógio D` Água
ISBN: 9789896411015

Sinopse

O Túnel é a única novela escrita pelo argentino Ernesto Sabato e que, conjuntamente com Heróis e Túmulos e Abaddón, o Exterminador e diversos ensaios, o tornaram um dos mais importantes escritores contemporâneos. O Túnel possui uma estrutura policial, tendo em Maria Iribarne uma personagem feita dessa alternância de luz e sombra que acaba por levar o pintor Juan Pablo Castel a assassiná-la, num processo em que os seus actos são analisados até à exaustão.
Livro sobre o amor, O Túnel é também uma obra sobre a criação e o que nela pode haver de obsessivo na ânsia de ultrapassar a solidão. «Existiu uma pessoa que poderia entender-me; mas foi precisamente essa pessoa que matei», diz Juan Pablo que se apaixonara pela mulher que fora capaz de compreender um quadro seu e de quem mais tarde não suportará o abandono.
Este livro estava na minha lista de "próximas aquisições" desde que o descarreguei e expus quando primeiro chegou à loja (há já algum tempo).  Mas estava na lista dos "não urgentes", pelo que era constantemente ultrapassado por outro espécime literário.  Foi, uma vez mais, nos saldos da Fnac, ao apresentar-se com o convidativo preço de 5€, que ganhou espaço na prateleira cá de casa.
Não sei se foi do longo namoro, se das preces que a Manuela Alvim (cliente e amiga em cujos conselhos literários acredito), mas a verdade é que esperava...  mais!
Admito, o assunto visado é-me completamente desconhecido...  Acho que não fui "abençoada" com o gene do ciúme e, talvez por isso, a leitura desta obra me tenha sido tão dolorosa.
Juan Pablo, personagem e narrador, conta-nos os eventos que culminaram no "seu" crime.  Matou Maria Iribarne.  Ele próprio no-lo confessa na primeira página.  E, este "túnel" em que ele sente que se movimenta sózinho, ainda que paralelo a outros, foi, para mim, uma espiral descendente de loucura que culmina na total perda de razão.  Juan Pablo vê Maria numa sua exposição (é pintor) e acredita ver nela a única pessoa na sala que verdadeiramente percebe um seu quadro.  A certeza de ter sido compreendido por outro ser humano torna Maria uma obsessão que tem de concretizar a qualquer preço.  Procura-a nas ruas de Buenos Aires enquanto fantasia diálogos que os aproximarão um do outro.  Quando, por fim, a encontra, a obsessão ganhara já formas de amor, e começa a autodestruição...  Todos os possíveis homens da vida de Maria (à excepção do marido os "outros" nunca são confirmados), as horas que passam longe um do outro, a reserva dela em partilhar pormenores da sua vida (em especial da vida amorosa), tudo isso alimenta a loucura de Juan, que tenta, propositadamente, magoá-la sem se aperceber que é a si próprio que magoa.  No culminar da loucura, persegue-a até à fazenda da família e crava-lhe uma faca no coração...
Sinceramente...  O livro está brilhantemente escrito (ou não surtiria o efeito que me provocou), mas para alguém que, como eu, não conhece as negras sombras do ciúme e da obsessão...  senti-me quase paranóica e custou-me terminar o livro.
Nota: 3 (mas, a bem da verdade, gostaria de lhe dar, se constasse da avaliação, um mais sincero 2,5)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Amor é... um Sonho...



O Amor de Longe
Amin Maalouf
Difel
ISBN: 972-29-0630-5
EAN: 9789722906302
Sinopse
No século XII, na Aquitânia…  Jaufré Rudel, príncipe trovador, cansado da sua vida de prazeres, aspira a um amor puro, distante.  Canta uma mulher perfeita, abstracta.  Mas um peregrino chegado do Ultramar afirma que essa mulher existe, e que a encontrou: é Clémence de Tripoli.  Jaufré, louco de amor, parte em busca desse “amor de longe”…
Um magnífico conto de amor e de morte, na tradição das grandes narrativas orientais.

Quando o tempo para as leituras escasseia, como é agora o meu caso, uma peça de teatro vem sempre a calhar.  O ritmo de leitura é sempre mais acelerado e a acção restringe-se ao que é necessário, ainda que o autor nos dê sempre os dados necessários para visualizarmos o cenário e as personagens tal qual ele as idealizou.  Por isso, depois de terminado “O Leitor” (do qual ainda não falei aqui), peguei nesta peça de Maalouf, comprada dias antes, por 2€, nos saldos da Fnac.
Jaufré é um príncipe sonhador, que canta os seus sonhos e anseios.  Farto de uma vida cheia de nada, deseja mais que tudo encontrar aquele amor verdadeiro e puro que se habituou a declamar.  Mas, ai de si!, não há no Mundo mulher merecedora desse amor e dessas canções.  Pois, para ele, tem de ser “bela, sem a arrogância da beleza, nobre, sem a arrogância da nobreza, piedosa, sem a arrogância da piedade”.  Quando se resigna à impossibilidade de tal Mulher existir, um Peregrino fala-lhe de uma mulher, exactamente assim, que viu nas suas viagens, “perto da Cidadela, (…) no domingo de Páscoa”.  Jaufré agarra-se à esperança da sua existência para assim a cantar a quem o queira ouvir.  Já o Peregrino, de volta às suas viagens, fala a Clémence (pois é assim que se chama a Mulher-Deusa que rouba o sono a Jaufré) de um Trovador que, no Ultramar, a canta e elogia nas suas trovas.  Clémence, demasiado conhecedora das suas faltas, sabe-se pouco merecedora das palavras do trovador, ainda assim elas tocam-na e ela apaixona-se, se não pelo homem, pelo menos pela visão que ele de si faz.  No final da peça, vemos Jaufré a bordo de um navio, acompanhado pelo Peregrino, ao encontro da sua amada (Clémence aterrorizada de que ele a descubra “apenas” humana), apenas para, à boa maneira de Camilo Castelo Branco, morrer à costa de Tripoli, antes de poder ver a sua Musa.
A peça lê-se muito bem…  rapidamente e de forma compulsiva.  No entanto, no fim, ficou-me uma ideia:  acredito que, não tivesse Jaufré morrido, a relação entre os dois teria continuado, apenas para ele se ressentir contra a “humanidade” dela e ela se fartar dos idealismos dele… 




Nota 3

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Senhor das Almas




O Senhor das Almas
de Iréne Némirovsky
Editor: Dom Quixote
ISBN: 9789722032384



Sinopse

A autora ressuscita com precisão o turbilhão mundano e intelectual da época.
Nice, 1920. Um jovem médico faminto, Dario, aceita praticar um aborto clandestino numa flamejante aventureira nova-iorquina para evitar a degradação de Clara, sua mulher, e do seu bebé.
Uma solução que permite a este filho de vendedor, vagabundo e meteco de sangue grego e italiano, sobreviver apesar da indiferença da clientela chique da cidade.
Multiplicando os expedientes durante os anos passados em Nice, Dario tem a ideia de génio que o ajudará a forçar o seu destino: pervertendo com uma intuição maquiavélica a teoria psicanalítica em voga, torna-se um charlatão da moda, estranho senhor das almas deslumbrado com a sua perigosa ascensão social...


Sabem aquela sensação de antecipação que antecede a leitura de um livro há muito aguardado?  Foi assim que iniciei a leitura desta obra.  Queria ler a "Suite Francesa", mas achei por bem começar por obras de menor envergadura da autora.  Primeiro li "O Baile", que mais não é que um livro de bolso sobre uma rapariguinha caprichosa que decide boicotar o baile dos seus pais por não lhe ser permitido assistir ao mesmo.  Lê-se bam, mas, quanto mais não seja pelo tamanho, nunca o consideraria um pilar da literatura.  Entretanto chegou a vez deste "Senhor das Almas".
Dario, o personagem central da obra, traz na cor da pele, no sotaque e, principalmente, na pobreza, a sua condição de estrangeiro em terras francesas.  No início do livro sabemos que Dario e Clara, sua mulher, receberam na miséria o milagre da vida, acabando de ter um filho.  Por este motivo, Clara está, ainda, no hospital e Dario, mais do que o habitual, sente a urgência de ter dinheiro para alimentar a família para que não volte a passar pela provação de perder um filho para a fome.  Este homem, médico de profissão, em desespero acede a por os escrúpulos de parte e fazer uma interrupção de gravidez à nora norte-americana da sua senhoria russa.  É este o primeiro passo para o seu desprendimento moral e consequente ascensão social.  É, assim, que irá, também, ganhar o cognome de "Senhor das Almas"...  Um homem que, por mais que os doentes queiram abandonar, os atrai e prende na sua teia psicológica, como se as almas dos farrapos humanos que o procuram lhe pertencessem.  O ouro começa a brilhar-lhe nos dedos, as casas sucedem-se, cada vez mais opulentas, as mulheres trocam o asco pelo desejo...  Só o filho, a razão que ele dá para justificar todas as acções que toma, o olha com o nojo no olhar que conheceu nos seus tempos de penúria.  Clara, a ponte entre os dois homens da sua vida, ama o filho e agradece o milagre de o ver nascer e crescer, cada vez mais forte, ao contrário do irmão morto em bebé, mas é ela a personificação dos "escravos" do Senhor das Almas.  Adora o marido e aceita as suas ideias, as suas justificações e os seus devaneios sem o questionar...  E assim será até à sua morte.

Gostei do livro, que se lê facilmente apesar do tópico de grande carga psicológica...  Talvez por isso  a nota final não seja tão boa quanto devia...  Falta qualquer coisa,


Nota: 3

sábado, 2 de julho de 2011

Ser mulher... no coração negro da guerra...


"As Mulheres dos Nazis"
de Anna Maria Sigmund
Editora: A Esfera dos Livros
ISBN: 978-989-626-306-5
EAN: 9789896263065



Sinopse:

 Adolf Hitler exercia um enorme fascínio sobre as mulheres. Emocionadas, com lágrimas nos olhos, eram as protagonistas de uma autêntica histeria de massas em eventos públicos onde aquele discursava. As senhoras da sociedade alemã de então também o admiravam e abriram-lhe o caminho para o sucesso. Mulheres como Hanna Reitsch, Leni Riefenstahl e Winifred Wagner elevaram a fama do seu ídolo. Geli Raubal, a sobrinha de Hitler, cometeu suicídio por sua causa e Eva Braun seguiu-o até à morte. Quem eram as mulheres dos oficiais de Hitler? Como viveram? Qual foi o seu papel na vida oficial, e nos bastidores? O que sentiu Magda Goebbels quando assassinou os seus seis filhos em 1945? Como lidavam Carin e Emmy Göring com o vício de morfina do seu marido? Como encarou Henriette von Schirach a decisão do seu marido de deportar 60 mil judeus de Viena? Corresponderam Unity Mitford e outras mulheres envolvidas no círculo nebuloso da elite do Partido Nacional-Socialista ao ideal que se propagava: «O homem cuida do povo e a mulher da família?» A historiadora Anna Maria Sigmund responde a estas e outras questões, numa obra fascinante e original sobre o lado feminino do Terceiro Reich.



Foi com uma curiosidade aguçada que me debrucei sobre este livro.  Via, na sua leitura, a possibilidade de perceber como seria, para uma mulher, viver no meio do regime nazi, com todas as suas atrocidades, e conseguir levar a vida sabendo-se rodeada de tanta dor e tanta morte.  Claro que não sou ingénua ao ponto de pensar que a crueldade e a malvadez são caracteristicas exclusivas do chamado sexo forte, e bem sei que sempre houve, e sempre haverá, mulheres para quem o poder é o melhor dos afrodisíacos...  mas, ainda assim, e para mais sabendo que o papel da mulher no Terceiro Reich era o da matrona que, apoiando o marido, servia ainda de exemplo à prole e à sociedade, fazia-me muita confusão pensar em como essas mulheres conseguiam consiliar dois aspectos tão díspares da sua personalidade.

Pois bem...  Algumas não tinham qualquer problema em fazê-lo, gozando do seu status às custas de um preço demasiado alto a pagar por terceiros.  Outras havia, no entanto, que, aparentemente, estavam, pura e simplesmente, cegas ao que as rodeava.

Se, num prato da balança, encontramos mulheres como Magda Goebbels que, tendo sido criada por um padrasto judeu e amante de um outro, renunciou de bom grado a tudo e aceitou casar-se com Joseph Goebbels principalmente para estar próxima de Hitler, que idolatrava (um dos pontos em comum que tinha com o marido), ao serviço de quem colocou a casa que ganhara aquando do divórcio do primeiro casamento para que o Fuhrer podesse fazer as suas reuniões em local seguro; no outro prato temos, por exemplo, Emmy Göring, segunda esposa de Hermann Göring, ex-actriz, que pouco lidava com o líder nazi e que, com a sua influência junto ao marido, chegou a ajudar colegas actores de origem judia, a quem, aparentemente, recebia na sua casa.

Em comum, todas tinham o facto de viverem completamente abstraídas do que se passava a seu redor...  quer por escolha ou (possível) ingenuidade.  Fausto, riqueza e fartura faziam parte do seu quotidiano.  A dor só a conheceram no final, com o desmembramento do Terceiro Reich e o julgamento (ou suicídio) dos maridos e delas próprias.  Alegando ignorância pediram a clemência que os nazis não demonstraram durante o seu "reinado".

O livro é super interessante e faz-nos o retrato de oito "esposas-nazi"...

No final, continuo com dúvidas...

Nao acredito que alguém possa ter vivido no centro da filosofia nazi e não se ter dado conta no meio do quê estava a viver...  Ninguém é assim tão ingénuou ou distraído...


Nota 3

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Crime e Castigo... À Portuguesa!

"Crime e Castigo
no País dos Brandos Costumes"
de Pedro Almeida Vieira
Editora Planeta
EAN 9789896571900

Sinopse


No jardim à beira-mar plantado chamado Portugal consta que sempre viveu um povo sereno e de brandos costumes.
Este livro vai desfazer o mito.
Na verdade, a História de Portugal mostra que, desde tempos remotos, homens e mulheres mataram por paixão ou por motivos fúteis, bandidos semearam o pânico, houve serial killers, violadores e facínoras da pior espécie, ladrões de igrejas e hereges. Muitos sofreram depois, no corpo, as consequências dos seus actos, perante um Estado que então aplicava a lei de talião: olho por olho, dente por dente.
Um exacto século depois da Constituição da República de 1911 ter abolido a pena de morte para todos os crimes, e 250 anos após a última execução numa fogueira da Inquisição, eis o retrato verídico de uma selva à beira-mar plantada, através de 30 narrativas que relatam crimes históricos em Portugal. 
 
 
Ao pensar nos outros povos a maior parte de nós tem ideias pré-concebidas que dificilmente afastamos.  Quando o assunto são os povos mediterrâneoa, os conceitos são limitativos...  Os Italianos são Apaixonados e Apaixonantes; os Espanhóis são Efusivos e Festivaleiros; os Portugueses...  são Apáticos.
Neste livro, o último título a sair da pena de Pedro Almeida Vieira ("Nove Mil Passos", "A Corja Maldita" e "A Mão Esquerda de Deus", o autor abana as fundações sobre as quais assentam esses preconceitos.
Através do relato de 30 crimes cometidos antes da abolição da pena de morte no nosso País, Pedro Almeida Vieira mostra como, mesmo na pacatez saloia do Portugal de outros tempos, o crime, a sede de sangue, a malvadez e a crueldade corriam nas veias de um povo que, aparentemente, possuía a calmaria de um mar sem ondas...  apenas para provar que, como este, na sua imensidão e profundidade se escondiam perigos iminentes.
Os relatos abrangem toda uma panóplia de crimes; das façanhas de Diogo Alves no Aqueduto das Águas Livres; passando pela bela adúltera que mais que apupada foi cantada em verso a caminho do castigo final; passando por Luísa de Jesus, uma infanticída que recolhia crianças da Roda dos Expostos (onde eram deixados os orfãos e "filhos de pais incógnitos", apenas para as matar às dezenas; e, finalmente, a história de Maria José, a jovem que com o seu crime (matou e desmembrou a mãe) acordou a chama literária de um jovem de 23 anos, de seu nome Camilo Castelo Branco, que a viria a imortalizar na obra "Maria! Não me Mates, Que Sou Tua Mãe!" (Editora Diversos, EAN 9789728983017).
 
O livro, apesar de estar longe de ser um pilar da literatura, lê-se muitíssimo bem (com a curiosidade mórbida que faz com que se abrande ao passar num acidente, e com o gosto envergonhado e cheio de culpa com que se visitam os sites de novidades cor-de-rosa...  aquele género de coisa que, apesar de gostarmos, custa-nos a admitir publicamente)...
 
Nota 3 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Deixem passar o homem invisível




Deixem Passar o Homem Invisível
Rui Cardoso Martins
D. Quixote
EAN: 9789722038287



Sinopse:

Durante uma grande enxurrada em Lisboa, um homem - cego desde os 8 anos, advogado - cai numa caixa de esgoto aberta, situada junto à igreja de S. Sebastião da Pedreira. Na mesma altura, um escuteiro que regressava de uma actividade na mesma igreja é também arrastado para o mesmo esgoto. É a viagem de ambos, através de uma Lisboa subterrânea, enquanto cá fora são tomadas todas as medidas para os salvarem, que o autor nos conta neste segundo livro. Mas é também a entreajuda, a cumplicidade entre o cego e a criança, naquela terrível aventura.
Pelo meio, as histórias de um ilusionista - Seripe (sic) de nome artístico, na realidade Pires ao contrário - , as recordações do homem cego do tempo antes de aquilo acontecer, a história de um camaleão que não acertava com a cor, e tantas outras tornam a leitura deste livro extremamente aliciante.


Crítica de imprensa:

O invisível aqui é a Lisboa "underground", a Lisboa de boqueirões, valas comuns, águas pluviais, passagens secretas, estacas. É uma Lisboa que os lisboetas vão descobrindo a cada pequena catástrofe, a cada obra nova. Lisboa é ao mesmo tempo uma cidade mal feita e engenhosa, toda ligada debaixo do chão, em camadas de arqueologia, de história, de higiene pública.
Pedro Mexia in Público



Hoje, antes da crítica ao livro, vem a crítica à crítica... A sinopse aqui apresentada, facilmente descoberta quando se "googla" o título desta obra, é, à falta de melhor adjectivo... imprecisa! Faz-me, verdadeiramente, muita confusão quando, ao ler a sinopse de um livro e depois na minha descoberta pessoal da obra (ou, neste caso, vice versa), me apercebo que, das duas uma: u quem escreveu a sinopse nem sequer abriu o livro, tomando o relato de algum representante da editora como verdade universal (e, acreditem, já tenho falado com a minha quota parte de fornecedores editoriais para saber que, na sua maioria, vêm com a lição estudada tão bem quanto o Professor Marcelo de Sousa), ou então não leram com olhos de ler... sinceramente, não sei qual será pior! Devo, por isso, começar por emendar o que deve ser emendado: "um homem (...) cai numa caixa de esgoto aberta"... não é verdade... o chão cede e ele desaparece num "enorme buraco". "um escuteiro (...) é também arrastado para o mesmo esgoto"... bem, dificilmente não desapareceria no mesmo buraco uma vez que IA AOS OMBROS do homem cego! E por fim, e aqui é só uma questão gramatical, o mágico chama-se Serip (Pires ao contrário, como é fácil de constatar, não termina em E)

Bem... quanto à obra...
Quando este livro chegou à livraria (em grande destaque por ter ganho o prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores/Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas de 2009) cativou-me de imediato. Ao ler a trama proposta achei que tinha o potencial para ser, não só uma grande obra, como uma crítica eficaz à sociedade portuguesa: um cego a guiar uma criança por entre túneis escuros e fétidos! Infelizmente, a história não se desenvolve na direcção que eu imaginei!
Atenção... Não deixa de ser, por isso, um bom livro! Mas, para mim, ficou-me aquele travo amargo de uma potencialidade perdida... Tanto que se poderia ter dito... E tão limitado que ficou o enredo!
Basicamente, a história divide-se em 3 planos: o sub-solo, onde António e João procuram a luz que os levará, de novo, ao ar da cidade de Lisboa; Lisboa, onde bombeiros, familiares e amigos (poucos de cada) se reunem na tentativa de elaboração de um plano de resgate; e o passado, as memórias de António que vão servindo de fio condutor à narrativa.
Assim, ficamos a saber da amizade de António e Serip, da sua relação com Helena (a mulher que, aparentemente, contra a sociedade geral decidiu casar com o "advogado ceguinho"), ficamos a conhecer a revolta de António com o lugar dos cegos na sociedade e da sua vontade de fugir a esteriótipos, a perseguição que os seus pais, e ele, por arrastão, fizeram a uma milagrosa cura e, finalmente, ficamos a saber o que foi "aquilo que aconteceu naquele dia" (ou seja, o motivo da sua cegueira repentina). De João sabemos pouco... É escuteiro. Já tinha feito a boa acção do dia. Vive com a mãe. Inventou com o pai uma história de um camaleão. O pai morreu! Informações telegráficas que nos surgem nos intervalos da história de António. No fim, sabe-se, as duas histórias cruzam-se num momento marcante na vida de ambos... ainda que nenhum o saiba de início e só António o perceba.
Pelo meio, conhecemos a figura caricata de Serip, um utopista inocente perdido em bordéis, casinos e casas de entertenimento...
Soube a pouco!

Nota 3

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Negócio de Família





A Loja dos Suicídios
Jean Teulé
Editora Guerra & Paz
EAN 9789898014900



Sinopse:

É uma lojinha onde nunca entra um raio de Sol. Imagine um negócio de famíliaque envolve a venda de todos os ingredientes possíveis para a prática do suicídio, nas suas mais diversas formas. Corda, pistola, facas, venenos e toda uma panóplia de produtos mortíferos. São cinco as personagens que compõem esta família atípica que gere a loja à várias gerações: os pais, profissionais, comerciantes; o filho primogénito, deprimido crónico mas extremamente criativo no seu domínio; a irmã, exemplo típico da adolescente inadaptada; e finalmente o irmão mais novo, o verdadeiro grão de areia na engrenagem deste comércio lúgubre: é que ele se atreve a sorrir e a ser... optimista. Com uma ambiência digna de um filme de Tim Burton, A Loja dos Suicídios é uma comédia negra futurista que invoca o grande adversário da família Tuvache e do seu sinistro empreendimento: a alegria.


Lucrécia e Mishima são, como tantos outros, pais cheios de expectativas no que diz respeito à sua prole. As suas expectativas é que não são assim tão comuns. Donos da Loja dos Suicídios este casal alimenta a insegurança, depressão e morbidez de cada um dos seus filhos. Bem sucedidos com Vincent, o filho mais velho, anoréctico, depressivo, desenquadrado e propenso a enxaquecas, e com Marilyn, a filha do meio, típica adolescente desajustada, insegura e ressentida... Mas a história é outra quando falamos de Alan, o filho mais novo da família Tuvache... uma verdadeira "ovelha branca"! Desde bebé que Alan se revelou um problema, pois numa família que se orgulha da sua depressão e seriedade, o jovem recebia os clientes com sorrisos e palrava alegremente. Com o passar do tempo, e apesar das inúmeras tentativas por parte dos pais e irmãos para lhe incutir os princípios do negócio, Alan teimava a continuar a receber alegremente os clientes e a despedir-se com um "volte sempre" que ia totalmente contra as regras da casa (que se orgulhava tanto da eficácia dos seus produtos que adoptara como moto "A sua vida foi um fracasso? Connosco, a sua morte será um sucesso!"). Lucrécia e Mishima, desesperados pela alegria e esperança que Alan traz, tentam vergá-lo a todo o custo mas... será a felicidade contagiante?

O livro é pequeno (160 páginas) e dificilmente se poderá considerar um clássico... Mas é um livro que se lê facilmente e que, para quem, como eu, gosta de humor negro, colocará um sorriso nos lábios do leitor e até, talvez, lhe consiga arrancar uma ou outra gargalhada. E, com uma ironia que nos relembra que na vida às vezes as coisas não correm como planeado, o final irá surpreendê-lo.

 

Nota 3

segunda-feira, 12 de abril de 2010







Escritores à Mesa e Outros Artistas
José Quitério
Assírio & Alvim
ISBN: 9789723714654


Sinopse

Os textos que compõem este livro têm proveniências diferentes: 6 figuram no Livro de Bem Comer, 14 em Histórias e Curiosidades Gastronómicas, 11 são inéditos. Os não inéditos foram objecto de revisão, emendas e acrescentos (nalguns casos substanciais). Escritores à Mesa (e outros artistas) resulta da necessidade de rearrumação, tendo em vista que os dois livros anteriormente referidos jamais serão reeditados como tais. Surgirão refundidos, aparados, apurados e aumentados num único volume, sob o título Bem Comer & Curiosidades, no fim do presente ano. A presente obra pretende ser uma homenagem sobretudo aos escritores que nem por serem dos maiores deixaram de tratar dum tema que muitos letrados enfadados (e enfadonhos) consideram matéria menor ou mesmo abominável. Que possa servir também de antepasto para uma há muito prometida Antologia da Gastronomia na Literatura Portuguesa (séculos XIII-XX), a vir ao mundo, se o permitirem o tempo e as potestades, em 2011.


Foi com grandes expectativas que me debrucei sobre este livro. Portugal, para mim, está sempre associado a "boa mesa". Mesmo em momentos de dificuldades consegue-se sempre fazer um repasto que não envergonhe ninguém. Sendo descendente de alentejanos, essa era uma realidade desde sempre implantada na minha mente... Mesmo sem grandes luxos, havendo pão, azeite e meia dúzia de ingredientes surgia na mesa uma açorda, um ensopado ou, nos meses quentes de Verão, o belo gaspacho. A imaginação tornava-se superior à privação. E, se fossem disponibilizados meios sem restrições, surgia à refeição um verdadeiro banquete... Peixe, carne, enchidos, queijos, tudo ganhava papel de destaque na hora da partilha. E, nos livros de autores lusófonos, a mesa era isso mesmo; um lugar de partilha em que, a simples leitura da descrição do que nela se dispunha, abria o apetite e alagava a boca do leitor.

Gostei do livro, mas... Se calhar as minhas expectativas eram demasiado elevadas, mas fiquei com um sentimento de vazio... como se visse defraudada uma promessa de grandeza que não se elevara a toda a sua potencialidade.

O autor descreve não só as referências literárias "à mesa", como também tenta, sempre que possível, explicar o contexto em que estas se inserem. Ou seja, chega ao ponto de localizar geograficamente restaurantes e hoteís, partilhar preçários, etc etc etc. Ainda assim, e por muito prazer que tenha tido na leitura do livro, não me "satisfez"...


Nota 3

sábado, 27 de março de 2010




A Arte de Ser Pai
Cartas de Eça de Queiroz para os seus filhos
Eça de Queiroz
Verbo
EAN 9789722229807



Sinopse

Ao entrar em contacto pela primeira vez com as cartas de Eça de Queiroz aos filhos, a sua leitura acordou em mim reminiscências de infância e consegui interiormente recuperar ecos quase esquecidos de versos de Vítor Hugo aos netos, fragmentos soltos dos poemas que compõem L’art d’être grand-père. Isso explica o título desta colectânea de cartas. É preciso não esquecer que Eça de Queiroz foi pai pela primeira vez aos 41 anos completos e que Ramalho, por exemplo, mais velho que o amigo, se sentia mais avô do que tio dessas crianças.



Adoro o Eça. A maior parte das pessoas com quem falo sobre este meu gosto literário encolhem-se face a esta confissão... Mais ainda quando sabem que já li os Maias umas quatro ou cinco vezes e que a primeira vez que o fiz foi na praia, muito antes de ter de ler o livro para a escola. Mas as pessoas que se encolhem, que franzem o nariz aos livros de Eça são, muitas das vezes, as mesmas que nunca abriram um e o leram "de fio a pavio".

Apesar de me aventurar nas obras do mestre, o meu conhecimento biográfico de Eça era, devo admiti-lo, bastante limitado. Conhecia o seu percurso profissional (literário e diplomata) e possuo a, enorme, obra "Eça de Queiroz - Emília de Castro, correspondência epistolar" (Lello & Irmãos, EAN 9789724816869, ISBN 972-48-1686-9), mas não tinha qualquer ideia dele enquanto pai... Quero dizer, ele fala dos filhos nas cartas à mulher, mas uma coisa é falar de crianças com um adulto, outra, complectamente diferente, é dirigir-se a essa mesma criança. Neste caso, crianças, os quatro filhos do casal: Maria (a mais velha e, por isso, a que mais conviveu com o pai e por quem, podemos vê-lo no livro, Eça tinha uma preferência), José Maria, António e Alberto.

O Eça deste livro é, para mim, um novo Eça. Vemos um lado mais emotivo, sensível, "despido", de um homem que marcou a literatura com o seu tom ácido, irónico e com o seu humor contundente. A inteligência, que também marca a sua obra, é aqui visível pela maneira como consegue colocar-se ao nível dos filhos sem se estupidificar, edificando as crianças e ajudando, desta forma, a moldar-lhes o carácter e a personalidade. Sem se tornar óbvio, nunca deixa de puxar pelos filhos e de lhes exigir mais e melhor (quer da escrita quer do comportamento), e mostra-se um pai orgulhoso das pequenas façanhas e das metas atingidas pelas crianças, partilhando-as com os amigos mais próximos.

O livro, de pouco mais que 140 páginas, tem representadas as cartas originais de Eça, em francês, seguidas das traduções... No entanto, se tiver que fazer uma crítica, acho uma pena que o mesmo não tenha sido feito às cartas que o escritor recebeu dos filhos. Ao manter apenas a versão original, na língua de Voltaire, pode comprometer a compreensão das mesmas a alguns leitores.



Nota 3