sábado, 10 de setembro de 2011

A Magia do Números
de Yoko Ogawa
Quetzal Editores
EAN 9789725649558





Sinopse

Uma empregada de limpeza começa a trabalhar em casa de um velho matemático, um homem com mais de sessenta anos, cuja carreira foi brutalmente interrompida por um acidente de automóvel, que reduziu a autonomia da sua memória a oitenta minutos.
A cada manhã, a jovem mulher deve apresentar-se como se se vissem pela primeira vez - o professor esquece-se que ela existe de um dia para o outro -, mas é com grande paciência, gentileza e muita atenção que ela consegue ganhar a sua confiança, apresentando-lhe também o filho de dez anos. Aí se inicia uma relação maravilhosa: o rapazinho e a sua mãe vão não só partilhar com o velho amnésico a sua paixão pelo beisebol, como vão também aprender com ele a magia dos números. Neste subtil romance sobre a herança e a filiação - e em que três gerações se encontram sob o signo de uma memória extraviada e fugidia - a narrativa desdobra-se com a graça e o rigor de um origami. Lapidar e profundo como um haiku, A Magia dos Números é uma pequena obra-prima…






Por vezes acontece algo assim…  Um livro, de que nunca ouvimos falar e de quem não conhecemos, sequer, o autor, salta-nos à vista e acaba por se revelar uma agradável surpresa.  Aconteceu-me, há mais de dois anos, com “AElegância do Ouriço”, de Muriel Barbery (um livro que, para grande tristeza minha, passou virtualmente despercebido aos clientes da Fnac de Cascais – salvo as raras excepções em que eu, a bem da felicidade literária das pessoas, o “impingi” a quem pude) e está a acontecer agora com o recente “A Magia dos Números” de Yoko Ogawa.

Um homem que dedicou toda a sua existência ao poder da matemática e dos números vê, em consequência de um acidente de viação, a sua consciência diminuir a um espaço temporal de 80 minutos.  Tudo o que passe desse período é por si esquecido.  Essa particularidade tornam o homem uma pessoa de difícil convivência que, afastado pela família para a reclusão envergonhada de uma existência num anexo do lar familiar, mantém a dignidade pessoal com a ajuda de empregadas domésticas que se sucedem a uma rapidez vertiginosa.  Nenhuma é capaz de aguentar por muito tempo a vida na casa do “Professor”.  É assim que lhe chama a nossa narradora, a mais recente empregada doméstica ao serviço do matemático.  Intrigada pela realidade do patrão, bem como instigada por um exacerbado brio profissional, a jovem tenta, diariamente, ganhar a luta contra as limitações do Professor.  Pequenos pormenores saltam à vista…  A forma como o homem usa pedaços de papel e alfinetes para, fazendo de si próprio um quadro de recados, se conseguir recordar dos momentos e coisas importantes do quotidiano (fazendo, por exemplo, um retrato tosco da jovem para a reconhecer quando ela, diariamente, chegar a sua casa); a maneira como os seus olhos ganham vida de cada vez que fala de números, fórmulas ou equações; até mesmo a mania, quase infantil, de deixar sempre as cenouras no prato, tudo isso vai pintando à narradora (e, através dela, a nós que a acompanhamos na descoberta deste homem) o perfil de uma mente brilhante…  com curto prazo de validade.  Um dia, em conversa, a jovem conta-lhe que tem um filho, de 10 anos.  O Professor, isolado de tudo e de todos, fica horrorizado com a perspectiva de uma criança a deambular pelas ruas, até altas horas da noite, enquanto a mãe perde o seu precioso tempo a tomar conta de si.  Mandando-a embora, avisa-a que, daí em diante, a criança deverá acompanhá-la, no trabalho, após a saída da escola.  E é com esta nova personagem que o livro nos apresenta uma mudança na relação e nas vidas das três personagens.  O velho Professor apega-se a “Root” (nome que dá ao filho da empregada por este ter o alto da cabeça “tão plano quanto o símbolo da raiz quadrada”) e com ele (e através dele) revive uma vida que não se lembra e ganha novo alento para o Presente.  Mas nos livros, como na vida, nem sempre os percursos mais felizes levam aos melhores desfechos.

Vencedor do prémio Yomiuri e do prémio Hon'ya Taisho em 2003, este livro foi adaptado para o cinema em 2006.  Chega agora a Portugal e, espero eu, não há-de passar despercebido aos leitores do nosso país.

Nota 4 (até ao momento)