quarta-feira, 17 de junho de 2009

A individualidade verga-se à sociedade.


A elegância do Ouriço
Muriel Barbery
Editorial Presença
ISBN 978-972-23-4051-9


Por vezes os livros que maior prazer nos dão são aqueles de que temos mais dificuldade em falar (queremos dizer o suficiente para despertar o interesse de quem nos ouve, mas não o bastante para que pensem já não ser necessário lerem o livro).
A primeira vez que vi este livro pensei, ao olhar para a capa, que se trataria de uma dessas histórias sobre crianças abusadas e maltratadas. Na verdade o livro nada tem a ver com essa temática (apenas houve, na minha opinião, uma infeliz escolha de capa - a tentativa de a tornar mais comercial roubou alguma coerência ao livro).
A obra relata a história de duas personagens femininas: Paloma, uma rapariga rica, sobredotada, de 12 anos que, consciente do vazio da vida das pessoas em seu redor, pretende matar-se no seu 13º aniversário excepto se, nos meses que ainda restam até à data, descobrir algo por que valha a pena viver. A segunda personagem é Renée, a porteira do prédio onde vive Paloma, e uma mulher que tem de calar a sua própria inteligência, cultura e personalidade de forma a corresponder ao estereótipo da porteira que os seus inquilinos têm pré-formada (uma pessoa burra, pobre e de baixa cultura).
No fundo este é um livro que fala sobre a forma como, todos nós, estamos condicionados por normas sociais e culturais. De tal forma que, por vezes, somos obrigados a calar a nossa própria voz para sermos aceites.
Adorei o livro e tenho-o aconselhado a todos os que me pedem opinião e, mesmo, aos que o não fazem. No entanto existem alguns pontos negativos, a meu ver, que devem ser mencionados (para além da supracitada capa): o facto de só percebermos, na totalidade, a maneira de ser e agir de Renée quando tomamos conhecimento de Lisette (nas últimas 50 páginas); a forma como, para mostrar a juventude de Paloma, por vezes a autora aligeira o tom da escrita da jovem enquanto existe sempre uma certa pomposidade na escrita de Renée; também me decepcionou, de certa forma, o último capítulo escrito por Renée (percebi a ideia, mas o sentimentalismo que, aliás, existia já no capítulo anterior, parece-me, ligeiramente, forçado).
Ainda assim considero este um dos melhores livros que li no decorrer do último ano e desconfio que ainda demorará algum tempo a encontrar outro à altura.
Nota 4

Sem comentários:

Enviar um comentário