domingo, 29 de abril de 2012

Conta-me um conto...

A História do Limpador de Botas
de Charles Dickens
Editor: Estrofes & Versos
ISBN: 9789898292322

Excerto:

«Em que lugares tinha estado na mocidade?», repetiu ele quando lhe formulei a pergunta. Santo Deus!!, tinha estado em todos os lados! E que profissões exercera? Quase todas as que se pode ser! Se tinha visto muitas coisas? Certamente. Eu mesmo diria isso, posso assegurar, se soubesse de um vigésimo do que lhe acontecera na vida. Tanto que seria muito mais fácil para ele falar do que não vira do que daquilo que vira. Muito mais fácil."


Voltei a dar um passeio (desta vez curtinho) pelo País dos Contos.  Acredito que "água mole em pedra dura..."  Ainda vou adorar o género!  Como não quero dar um passo maior que a perna, ou, como dizem os ingleses, acho que devo começar com "baby steps", adquiri alguns volumes da mini-colecção de contos da Estrofes & Versos.  Primeiro porque os olhos também comem e os livros são um mimo:  pequeninos (10x15), em papel reciclado, e todos com o mesmo grafismo; segundo porque são todos de autores conceituadíssimos e por quem tenho grande admiração (se bem que lá pelo meio veio um do Kafka que, desde a sua Metamorfose há uns anos atrás, me ficou entalado na goela).
Comecei a "degustação" da minha nova colecção com este "A História do Limpador de Botas", do nosso amigo Dickens.  O livro é composto por três contos: o que dá o título ao livro, seguido de "A História de Ninguém" e, por fim, "Entrar na Sociedade".  E foi esta, curiosamente, a ordem pela qual gostei deles.  Gostei muito do relato do limpador de botas, sobre a tentativa de fuga e casamento de duas crianças de 8 anos.  Acho que a pureza de sentimentos, os idealismos, sonhos e facilidades próprios da infância (ou, pelo menos, de como esta deveria ser), foram magistralmente retratados pelo autor.  Os dois contos seguintes são vedadas críticas sociais:  o primeiro poderá ser visto (foi assim que o escolhi entender) como uma crítica à classe política que, sendo-lhe dado o poder de governação e escolha sobre a vida das classes mais baixas por estas próprias, escolhem nada fazer e ainda as criticam quando algo corre mal.  O último fala sobre as falsidades da dita "boa sociedade" e dos jogos de interesses que a compõem.  Infelizmente, no "Entrar na Sociedade" achei o final muito confuso e nada em linha com o conto em si, pelo que este perdeu consideravelmente a minha simpatia.
Gostei deste mini-livro!  Gostei que esteja a ajudar a minha educação "conto-ral" e espero que os restantes volumes da colecção façam o mesmo!
Nota 3

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Confesso-me...


Crimes Exemplares
de Max Aub
Editor: Antígona
ISBN: 9789726082019


Sinopse:

Max Aub (1903-1972) é autor de mais de 40 títulos, entre os quais Crimes Exemplares, publicado em 1957 e que, em 1981, conquistou o Grand Prix de L'Humour Noir, em Paris.
São 87 confissões curtas, secas e directas, por vezes muito violentas, outras com uma certa beleza poética e bem-humoradas, feitas por quem praticou um crime contra a vida de alguém. São crimes de todo o tipo, por envenenamento, estrangulamento, etc., em que se constata não só a grande perversidade humana, mas também uma inacreditável ingenuidade.
Este livro mantém uma nada surpreendente actualidade, num mundo como o nosso, onde a violência real parece cada vez mais ficção. Esta edição especial de grande formato conta com 32 ilustrações a preto e encarnado.



Comprei há 2 dias, e já li.
De certa forma estou a tentar entrar, aos poucos, no mundo dos contos e já conhecia esta obra. É um marco da literatura de "humor negro", no qual cada página corresponde a uma confissão feita por um assassino que tenta, assim, justificar o seu crime. As "justificações/contos" não têm, por vezes, mais que uma frase, o que torna a sua leitura rápida e compulsiva.
Gostei e ri.
Gostaria de ter dado um 3,5 mas, na impossibilidade de dar meios pontos, e seguindo a coerência que tento que caracterize as minhas notas, não lhe poderia dar um 4.
Não o considero um pilar da literatura mas, isso sim, uma maneira agradável de se passar uns bons momentos (de sorriso nos lábios)... E poder-se-à exigir mais a um livro?

"Era de caras!  A única coisa que tinha de fazer era empurrar a bola, com o guarda-redes completamente fora da baliza...  E atirou-a por cima da trave!  Um golo que teria sido decisivo!  Nós estávamo-nos absolutamente nas tintas para esses miseráveis da Nopalera.  Se o pontapé que lhe dei o mandou para o outro mundo, espero que pelo menos lá aprenda a rematar como Deus manda."

Nota 3

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Mark Twain... em mini-doses



Contos Satíricos de Mark Twain
De Mark Twain
Editor: Guimarães Editores
ISBN: 9789726655114





Sinopse


Foi nos domínios do humorismo e da sátira que Mark Twain mais vincadamente deixou impresso o seu génio inamovível, porque assente num modo extravagante de encarar as coisas simples, num espírito sarcástico e numa inultrapassável capacidade para transmitir a chamada "cor local".


Contos incluídos:
- A nota de um milhão de libras
- Excertos do Diário de Adão
- O roubo do elefante branco
- Conto policial de fundo duplo
- Um romance medieval
- Como um limpa-chaminés salvou o imperador
- "1601" ou conversa junto da lareira social como sucedia no tempo dos Tudors
- História exemplar de Edward Mills e George Benton
- O passaporte russo demorado
- A senhora McWilliams e a trovoada
- O romance da donzela esquimó


Sou sincera…  Sempre fui um pouco “Anti-conto”.  Apenas por achar que, se a história de um conto for interessante e apetecível, com um pouco mais de trabalho daria um óptimo romance.  Costumo dizer que o “conto” é um pouco como a comida chinesa:  quando acabamos sentimo-nos satisfeitos mas, meia-hora mais tarde, já estamos de novo com fome!
Comprei este livro, como os últimos de que aqui falei, nos saldos e a escolha deveu-se, em parte, e como também já referi, ao pouco tempo que, enquanto mãe de um menino de 17 meses, tenho para me dedicar a mim e aos meus livros.
Pois bem…  li-o rapidamente, disso não há dúvida.  Se gostei?  Não sei bem…
Houve alturas, na leitura, em que dei comigo a pensar “ou isto está muito mal traduzido – o que, enquanto estudante de tradução sei ser uma hipótese bastante viável – ou faltam elos de ligação na escrita”.  Senti isso, mais profundamente, n’ “A Senhora McWillaims e a trovoada” e no “Conto policial de fundo duplo”.  A sátira que se prometia no título e que deveria emprestar um sorriso sarcástico ao meu rosto, só a senti n’ “O roubo do elefante branco”, nos “excertos do Diário de Adão” e na “História exemplar de Edward Mills e George Benton”. 
Os contos lêem-se…  mais ou menos.  Não posso dizer que gostei do livro!  Não posso dizer que o aconselharia a alguém!  Acabei por não ficar com ele pois, ainda por cima, ao chegar à página 207 das 224, a primeira página do último conto, “O romance da donzela esquimó”, descobri um defeito de edição (não imprimiram uma das linhas), defeito esse que se verificou em todos os exemplares da livraria quando o fui para trocar.  A bem da verdade…  não acho que tenha sido grande perda para a minha biblioteca.
A nota dada poderia, inclusive, ser mais baixa…  mas não consigo dar uma nota inferior ao homem que me ofereceu Tom Sawyer e Huckleberry Finn.


Nota 3