sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Duas metades de uma mesma laranja... Orgulhosa e Preconceituosa.




Orgulho e Preconceito
Jane Austen
Publicações Europa-América
EAN 5601072510340
ISBN 972-1-04084-3




"É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa."
A frase de abertura deste romance, para além de mostrar o potencial satírico da autora, dá o mote para toda a obra. Descobrimos, logo na primeira frase, uma panóplia de raparigas solteiras, potenciais esposos (ricos) e um sem fim de mães dispostas a empurrar a prole para os braços de qualquer homem que traga dinheiro e pretígio à família.
É, pois, irónico que Jane Austen tenha escolhido para heroína desta história uma jovem que não liga a convenções, bolsas recheadas, casamentos impostos ou, mesmo, aos "nervos da sua pobre mãe". Elizabeth Bennet é a segunda de cinco irmãs e, não tendo o carácter calmo e, mesmo, fraco da irmã mais velha (a mais bela e promissora da família), nem a seriedade da terceira ou a leviandade das duas mais novas, é a personagem feminina mais inteligente de toda a história. De carácter forte e cultura superior aos que a rodeiam, Elizabeth tem consciência que, na sua condição de mulher, a inteligência é um handicap que, provavelmente, porá em risco a sua oportunidade de alguma vez vir a casar. Assim, promete a si própria só o fazer por um verdadeiro amor o que, no seu caso, mais que uma vida confortável junto a um homem de posses, significa uma constante debate de ideias com um homem que não se sinta ameaçado pela inteligência da mulher que tem a seu lado. E, contra todas as expectativas (das personagens, pelo menos) esse homem parece ser o frio e orgulhoso Mr. Darcy.
Darcy é um dos homens mais ricos de Inglaterra o que, socialmente, o coloca acima de todas as personagens do livro (à excepção de sua tia - uma Lady), facto que ele sabe e que o leva a desdenhar todos os que com ele se cruzam e que não façam parte do seu - restrito - grupo de amigos. Desdém esse com que ele brinda Elizabeth logo no primeiro encontro. No entanto, com a convivência, descobre a sua tenacidade, ironia e crítica constante uma agradável excepção à mulher puramente decorativa do seu extrato social. Contra todas as previsões - e, mesmo, contra a sua vontade - apaixona-se pela jovem.
Mas o amor entre os dois não pode ser tão fácil. Serão precisos vários mal-entendidos, outros pretendentes, rixas familiares e, até, a desgraça de uma família, até que os dois baixem as guardas e se aproximem. Quanto a nós, leitores, apesar de sabermos desde o início como a história vai acabar, aguardamos sempre em suspense para saber como acabará a história de Elizabeth e Darcy.
Como se nota, adoro este livro. Já o li e reli variadas vezes durante os anos em que ele faz parte da minha vida e estou certa que o irei reler muitas mais vezes. Logo, não posso deixar de o aconselhar a toda e qualquer pessoa que me peça opinião, nem de deixar de afirmar que, na minha modesta opinião, este é um dos melhores livros de sempre e uma presença obrigatória em qualquer biblioteca que se preze.
Nota 5

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Lado privado de gente pública





Secret Lives of Great Authors
Robert Schnakenberg
Quirk Books
EAN 9781594742118
ISBN 978-1-59474-211-8



Robert Schnakenberg reuniu, nesta obra, factos menos conhecidos e mais escabrosos de autores consagrados. Como ele afirma no seu prólogo, não são os autores sensatos, calmos (até aborrecidos) como, entre outros, Jane Austen, que lhe interessam nesta obra. São os bêbados, os conflituosos, os drogados, os promíscuos, os insestuosos, os depressivos... Todos os problemáticos que tornam este um livro divertido de se ler (à semelhança das revistas cor-de-rosa temos a impressão de estar a bisbilhotar a vida alheia... e adoramos esse voyeurismo socialmente aceitável).

Assim, para além dos problemáticos conhecidos, como Hemingway, Virginia Woolf, Charles Dickens, Lord Byron, Jack London, Tolstoi ou F. Scott Fitzgerald, encontramos problemáticos que conseguiram disfarçar os seus problemas como Louisa May Alcott, as irmãs Brontë, Tolkien, Agatha Christie e W. B. Yeats, entre muitos outros.

Um livro light, divertido, e uma óptima solução para os que querem saber da vida alheia sem perder a pose intelectual.
Nota 4

sábado, 15 de agosto de 2009

O Tigre Branco




O Tigre Branco
Aravind Adiga
Editorial Presença
EAN 9789722341004
ISBN 978-972-23-4100-4




O primeiro romance do autor natural de Madras ganhou, por unanimidade, o Man Booker Prize de 2008. Ainda que, muito raramente, me deixe guiar pela atribuição de prémios nas minhas escolhas literárias a verdade é que a possibilidade de conhecer "uma Índia ainda muito pouco explorada pela ficção, a Índia negra, violenta e exuberante das desigualdades socioculturais endémicas" atraiu a minha atenção. Admito que gostei.

A história, mais que a biografia do narrador, Balram Halwai (Munna, para a família), é a biografia de um país em constante luta consigo próprio. Escrito em formato de cartas ao longo de sete noites, Balram tenta explicar ao Primeiro-Ministro da China, através do seu próprio percurso de rapaz pobre de uma pequena aldeia até à sua carreira como empresário na cidade de Bangalore, a maneira de subir na vida na Índia. Ao contrário do que se possa pensar não é um relato de trabalho esforçado, poupança e frugalidade... É, antes de mais, um retrato duro e cruel de uma sociedade de contrastes sociais em que, na maioria das vezes, o receio e a superstição são, mais do que a honestidade, o maior obstáculo à acção do pequeno em relação ao grande (leia-se pobre e rico). Demonstra uma nação distante do retrato romantizado da Índia, uma nação de discrepâncias sociais, corrupção, suborno e chantagem.
Nota 4

domingo, 9 de agosto de 2009

Todas as cartas de amor são ridículas...




Cartas de Amor a Ophélia Queiroz
Fernando Pessoa
Ática
EAN 9789726655466
ISBN 978-972-665-546-6




O génio literário que afirmava que todas as cartas de amor são ridículas demonstra, neste livro, ser um ávido produtor das mesmas. Notamos nelas a(s) personalidade(s) que o tornou conhecido (coloco os plurais entre parêntesis uma vez que os seus heterónimos não estão excluídos das missivas, que por mera referência, quer como autores das mesmas, ou de partes delas) e, por vezes, até a depressão e o desânimo que por vezes atacavam o poeta. Encontramos, também, muitas e variadas provas que parecem corroborar a impressão pública de Fernando (Nininho, como ele assina por vezes) das cartas dos apaixonados.
No entanto, para além das esperadas tiradas românticas, podemos encontrar neste conjunto de missivas, provas suficientes da superioridade literária, irónica e crítica de um dos maiores vultos da literatura nacional, como se pode ver nos seguintes excertos:

"Não te admires de a minha lettra ser um pouco exquisita. Há para isso duas razões. A primeira é a de este papel (o único acessível agora) ser muito corredio, e a penna passar por elle muito depressa; a segunda é a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplendido, de que abri uma garrafa, de que já bebi metade. A terceira razão é haver só duas razões, e portanto não haver terceira razão nenhuma. - Álvaro de Campos, engenheiro."

"Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo, para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens - pelo menos quando têem - 1º espírito, 2º cabeça, 3º balde onde metter a cabeça."

"Vi-a, uma das vezes, só de soslaio, e os desgraçados que usam óculos têem o soslaio imperfeito."

Este é um livro que recomendo não só aos leitores que já gostam de Fernando Pessoa, como também aos que querem conhecer mais do homem por trás das letras (para o que conta muito o prefácio assinado por Ophélia), mas também àqueles que, querendo iniciar a aprendizagem do autor, se sentem algo assustadas com a genialidade (e multipersonalidade) do poeta (talvez conhecendo o lado mais frágil do homem consigam abstrair-se da grandeza do autor).
Nota 3

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Cenário idílico...





Venice
From Canaletto and Turner to Monet
Martin Schwander
Hatje Cantz
EAN 9783775722414
ISBN 978-3-7757-2241-4




Veneza é já à muito, e ainda será futuramente, considerada uma das cidades mais românticas, belas e idílicas do Mundo. Não é, pois, surpresa que, ao longo dos séculos, vários têm sido os artistas que aí se dirigem para beber inspiração e embuir-se do espírito veneziano.

A Fondation Beyeler, ciente desse fascínio provocado pela cidade dos canais à sensibilidade artística dos pintores ao longo dos anos, reuniu numa belíssima exposição, o trabalho de doze artístas europeus e norte-americanos. Temos, neste livro (que actua como um catálogo da citada exposição), a oportunidade de ver Veneza pelos olhos dos pintores William Turner, Renoir, Monet, Canaletto (natural da cidade - daí o nome, que significa "pequeno canal"), Manet, Francesco Guardi, Whistler, John Singer Sargent, Odilon Redon, Anders Zorn, Fragiacomo e Paul Signac.

É um livro belíssimo, uma visão artística de uma das mais belas cidades do Mundo.
Nota 4

sábado, 1 de agosto de 2009

A Relíquia, de Eça de Queiroz





A Relíquia
Eça de Queiroz
Livros do Brasil
EAN 9789723808995
ISBN 972-38-0899-4




"Diz-me meu pai que se abriu, ou vai abrir, esse famoso concurso da Academia (...) eu pretendo entrar nesse concurso, com a Relíquia: não porque haja sequer a sombra fugitiva duma probabilidade, mais magra do que eu, de que me seja dado o conto (...) mas porque desejo gozar a atitude da Academia diante de D. Raposo." (carta a Ramalho Ortigão, 14 de Junho de 1887).
O autor, como se pode ver por esta carta, considerava esta sua obra de baixa qualidade e pouco valor, e a vontade que o levou a concorrer foi mais a de provocar e chocar (principalmente Pinheiro Chagas, presidente do concurso e seu "inimigo público") do que a esperança de vir a ganhar o prémio. Eu, pessoalmente, Adoro este livro (recomendo-o a todos os que conheço e que, querendo conhecer a obra do Eça não querem abraçar a centena de páginas de descrição do Ramalhete), acho-o uma obra prima da literatura portuguesa e um excelente exemplo do humor contudente do autor.
O livro conta-nos a história de Teodorico Raposo (o D. Raposo da carta a Ramalho), um jovem que, vivendo às custas de uma velha e beata tia, tenta, aconselhado pelo amigo Dr. Margaride, arrancar à titi o máximo de dinheiro possível (e, se assim o conseguir, o patrocínio para a Grand Tour europeia que todos os jovens de bem ansiavam fazer). Conseguindo chegar à tia através da fé desta, convence-a a pagar-lhe uma viagem à Terra Santa onde ele, em seu nome, irá buscar uma Relíquia para a crente senhora. Com a viagem ganha, e apesar da obrigação religiosa, Teodorico embarca numa Tour mais comedida mas, nem por isso, menos imoral. Durante o percurso conhece (muito apropriadamente, de forma bíblica) Mary, uma jovem inglesa que se entrega de corpo e alma (principalmente de corpo) ao portuguesinho. Na hora do adeus, de forma a que ele se lembre sempre da sua Mary, a inglesa entrega-lhe o seu négligé, num embrulho. Claro está que, para a história responder a todo o seu potencial, a restante viagem troca as voltas a Teodorico que, de regresso a casa, e em frente a uma plateia onde se contam os mais altos dignatários religiosos da terra, entrega à titi a Relíquia da Terra Santa... a camisa de dormir de Mary. A tia, furiosa, expulsa-o de casa e, mais tarde, ao morrer, deixa todos os seus bens ao padre Negrão, que não perde tempo em colocar em casa uma mulher, Amélia, uma antiga amante de Teodorico. Este apercebe-se então do seu maior erro... Não ter sido cínico, hipócrita e manhoso o suficiente para se igualar aos religiosos que cercavam a titi Patrocínio.
Este é, sem dúvida, um dos livros da minha "biblioteca de sonho".
Nota 5