Cartas de Amor a Ophélia Queiroz
Fernando Pessoa
Ática
EAN 9789726655466
ISBN 978-972-665-546-6
O génio literário que afirmava que todas as cartas de amor são ridículas demonstra, neste livro, ser um ávido produtor das mesmas. Notamos nelas a(s) personalidade(s) que o tornou conhecido (coloco os plurais entre parêntesis uma vez que os seus heterónimos não estão excluídos das missivas, que por mera referência, quer como autores das mesmas, ou de partes delas) e, por vezes, até a depressão e o desânimo que por vezes atacavam o poeta. Encontramos, também, muitas e variadas provas que parecem corroborar a impressão pública de Fernando (Nininho, como ele assina por vezes) das cartas dos apaixonados.
No entanto, para além das esperadas tiradas românticas, podemos encontrar neste conjunto de missivas, provas suficientes da superioridade literária, irónica e crítica de um dos maiores vultos da literatura nacional, como se pode ver nos seguintes excertos:
"Não te admires de a minha lettra ser um pouco exquisita. Há para isso duas razões. A primeira é a de este papel (o único acessível agora) ser muito corredio, e a penna passar por elle muito depressa; a segunda é a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplendido, de que abri uma garrafa, de que já bebi metade. A terceira razão é haver só duas razões, e portanto não haver terceira razão nenhuma. - Álvaro de Campos, engenheiro."
"Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo, para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens - pelo menos quando têem - 1º espírito, 2º cabeça, 3º balde onde metter a cabeça."
"Vi-a, uma das vezes, só de soslaio, e os desgraçados que usam óculos têem o soslaio imperfeito."
Este é um livro que recomendo não só aos leitores que já gostam de Fernando Pessoa, como também aos que querem conhecer mais do homem por trás das letras (para o que conta muito o prefácio assinado por Ophélia), mas também àqueles que, querendo iniciar a aprendizagem do autor, se sentem algo assustadas com a genialidade (e multipersonalidade) do poeta (talvez conhecendo o lado mais frágil do homem consigam abstrair-se da grandeza do autor).
Nota 3
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