sábado, 1 de agosto de 2009

A Relíquia, de Eça de Queiroz





A Relíquia
Eça de Queiroz
Livros do Brasil
EAN 9789723808995
ISBN 972-38-0899-4




"Diz-me meu pai que se abriu, ou vai abrir, esse famoso concurso da Academia (...) eu pretendo entrar nesse concurso, com a Relíquia: não porque haja sequer a sombra fugitiva duma probabilidade, mais magra do que eu, de que me seja dado o conto (...) mas porque desejo gozar a atitude da Academia diante de D. Raposo." (carta a Ramalho Ortigão, 14 de Junho de 1887).
O autor, como se pode ver por esta carta, considerava esta sua obra de baixa qualidade e pouco valor, e a vontade que o levou a concorrer foi mais a de provocar e chocar (principalmente Pinheiro Chagas, presidente do concurso e seu "inimigo público") do que a esperança de vir a ganhar o prémio. Eu, pessoalmente, Adoro este livro (recomendo-o a todos os que conheço e que, querendo conhecer a obra do Eça não querem abraçar a centena de páginas de descrição do Ramalhete), acho-o uma obra prima da literatura portuguesa e um excelente exemplo do humor contudente do autor.
O livro conta-nos a história de Teodorico Raposo (o D. Raposo da carta a Ramalho), um jovem que, vivendo às custas de uma velha e beata tia, tenta, aconselhado pelo amigo Dr. Margaride, arrancar à titi o máximo de dinheiro possível (e, se assim o conseguir, o patrocínio para a Grand Tour europeia que todos os jovens de bem ansiavam fazer). Conseguindo chegar à tia através da fé desta, convence-a a pagar-lhe uma viagem à Terra Santa onde ele, em seu nome, irá buscar uma Relíquia para a crente senhora. Com a viagem ganha, e apesar da obrigação religiosa, Teodorico embarca numa Tour mais comedida mas, nem por isso, menos imoral. Durante o percurso conhece (muito apropriadamente, de forma bíblica) Mary, uma jovem inglesa que se entrega de corpo e alma (principalmente de corpo) ao portuguesinho. Na hora do adeus, de forma a que ele se lembre sempre da sua Mary, a inglesa entrega-lhe o seu négligé, num embrulho. Claro está que, para a história responder a todo o seu potencial, a restante viagem troca as voltas a Teodorico que, de regresso a casa, e em frente a uma plateia onde se contam os mais altos dignatários religiosos da terra, entrega à titi a Relíquia da Terra Santa... a camisa de dormir de Mary. A tia, furiosa, expulsa-o de casa e, mais tarde, ao morrer, deixa todos os seus bens ao padre Negrão, que não perde tempo em colocar em casa uma mulher, Amélia, uma antiga amante de Teodorico. Este apercebe-se então do seu maior erro... Não ter sido cínico, hipócrita e manhoso o suficiente para se igualar aos religiosos que cercavam a titi Patrocínio.
Este é, sem dúvida, um dos livros da minha "biblioteca de sonho".
Nota 5

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