sábado, 27 de março de 2010




A Arte de Ser Pai
Cartas de Eça de Queiroz para os seus filhos
Eça de Queiroz
Verbo
EAN 9789722229807



Sinopse

Ao entrar em contacto pela primeira vez com as cartas de Eça de Queiroz aos filhos, a sua leitura acordou em mim reminiscências de infância e consegui interiormente recuperar ecos quase esquecidos de versos de Vítor Hugo aos netos, fragmentos soltos dos poemas que compõem L’art d’être grand-père. Isso explica o título desta colectânea de cartas. É preciso não esquecer que Eça de Queiroz foi pai pela primeira vez aos 41 anos completos e que Ramalho, por exemplo, mais velho que o amigo, se sentia mais avô do que tio dessas crianças.



Adoro o Eça. A maior parte das pessoas com quem falo sobre este meu gosto literário encolhem-se face a esta confissão... Mais ainda quando sabem que já li os Maias umas quatro ou cinco vezes e que a primeira vez que o fiz foi na praia, muito antes de ter de ler o livro para a escola. Mas as pessoas que se encolhem, que franzem o nariz aos livros de Eça são, muitas das vezes, as mesmas que nunca abriram um e o leram "de fio a pavio".

Apesar de me aventurar nas obras do mestre, o meu conhecimento biográfico de Eça era, devo admiti-lo, bastante limitado. Conhecia o seu percurso profissional (literário e diplomata) e possuo a, enorme, obra "Eça de Queiroz - Emília de Castro, correspondência epistolar" (Lello & Irmãos, EAN 9789724816869, ISBN 972-48-1686-9), mas não tinha qualquer ideia dele enquanto pai... Quero dizer, ele fala dos filhos nas cartas à mulher, mas uma coisa é falar de crianças com um adulto, outra, complectamente diferente, é dirigir-se a essa mesma criança. Neste caso, crianças, os quatro filhos do casal: Maria (a mais velha e, por isso, a que mais conviveu com o pai e por quem, podemos vê-lo no livro, Eça tinha uma preferência), José Maria, António e Alberto.

O Eça deste livro é, para mim, um novo Eça. Vemos um lado mais emotivo, sensível, "despido", de um homem que marcou a literatura com o seu tom ácido, irónico e com o seu humor contundente. A inteligência, que também marca a sua obra, é aqui visível pela maneira como consegue colocar-se ao nível dos filhos sem se estupidificar, edificando as crianças e ajudando, desta forma, a moldar-lhes o carácter e a personalidade. Sem se tornar óbvio, nunca deixa de puxar pelos filhos e de lhes exigir mais e melhor (quer da escrita quer do comportamento), e mostra-se um pai orgulhoso das pequenas façanhas e das metas atingidas pelas crianças, partilhando-as com os amigos mais próximos.

O livro, de pouco mais que 140 páginas, tem representadas as cartas originais de Eça, em francês, seguidas das traduções... No entanto, se tiver que fazer uma crítica, acho uma pena que o mesmo não tenha sido feito às cartas que o escritor recebeu dos filhos. Ao manter apenas a versão original, na língua de Voltaire, pode comprometer a compreensão das mesmas a alguns leitores.



Nota 3

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