quarta-feira, 24 de março de 2010

Seriedade literária de um cómico de profissão





O Xangô de Baker Street
de Jô Soares
Editorial Presença
EAN 9789722320313
ISBN 972-23-2031-9



Sinopse

Estamos em 1886, o ano da primeira e triunfal tornée de Sarah Bernhardt no Brasil. Na corte de D.Pedro II, passa-se um facto estranho: desaparece o Stradivarius - o último fabricado - que este havia oferecido à baronesa de Avaré. Ao mesmo tempo alguém começa a assassinar jovens mulheres, decepando-lhes sistematicamente as orelhas e deixando nos corpos uma corda de violino. Sarah Bernhardt propõe ao imperador convidar o famoso Sherlock Holmes - e o seu inseparável doutor Watson - para resolver o caso. Misturando sabiamente realidade e ficção, Jô Soares fez deste enredo o ponto de partida de um extraordinário e inspirado romance que ressuscita com rigor histórico os coloridos e contrastantes ambientes do Rio oitocentista. Jô Soares revela assim uma nova e notável faceta do seu talento. Ele encanta-nos e diverte-nos com a sua genial (e maliciosa) recriação de um Sherlock que até fala um perfeito português lisboeta, da "divina" Bernhardt, assim como outras figuras conhecidas da história política e cultural do país. Com o humor inteligente que o caracteriza, Jô Soares escalpeliza os costumes da época e avança a ousada suposição de o Brasil ter sido o berço do primeiro serial killer da História. O resto, só mesmo saboreando a leitura deste livro invulgar, que se lê da primeira à última página sem parar.


Na altura em que este livro saiu, à mais de 10 anos, chamou-me logo a atenção! Talvez porque tudo o que relacionava, então, com a imagem do autor era um homem de dimensões alargadas, a levar a mão à boca e, distribuindo beijos invisíveis, proclamar "Um beijo do Gordo". Não era, propriamente, a ideia que fazia de um autor de policiais! Comprei-o, céptica, e devorei-o entre empolgação e gargalhadas.

Todos já ouviram, pelo menos uma vez na vida, mencionar o nome de "Jack, o Estripador". O serial-killer inglês que assombrou a Inglaterra victoriana, assassinando durante o ano de 1888 prostitutas num dos bairros mais empobrecidos da capital britânica, Whitechapel e que, nunca tendo sido descoberto, ficou conhecido para a história pelo pseudónimo macabro. Eu, que adoro uma boa história de mistério, não só já conhecia o seu nome, como seguia, quase avidamente, as novas teorias que iam surgindo. Qual não foi a minha surpresa quando, ao chegar ao final do livro, descobri que Jack era, na verdade... brasileiro! É assim, o livro de Jô Soares... Absurdo, confuso, divertido e, mais do que qualquer outra coisa... Surpreendente.

Misturando figuras reais da história, como D. Pedro II do Brasil, a música e compositora Chiquinha Gonzaga e a actriz Sarah Bernhardt, com figuras fictícias, mas bem conhecidas de todos, como Sherlock Holmes e o seu parceiro Dr. Watson, Jô Soares leva-nos numa viagem pelas ruas do Brasil dos finais do século XIX, enquanto vamos tentando acompanhá-lo na descoberta de um assassino em série que espalha o terror na aparente calma do povo brasileiro.

Claro que, num livro proveniente da mente de um dos mais famosos cómicos brasileiros, não poderia falar o humor. Neste caso, o mesmo é-nos servido pela rídicula caracterização de Sherlock que, para além de ser um miúpe em negação, chega às suas famosas deduções por sorte ou através do talento dos que o rodeiam.

Este livro NÃO é um clássico... NÃO é o livro para marcar uma vida. Mas, no Verão pelo qual já se anseia, pode ser um excelente companheiro para um daqueles dias de praia solarenga de que todos parecem ter saudades!

Nota 4

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