segunda-feira, 12 de abril de 2010







Escritores à Mesa e Outros Artistas
José Quitério
Assírio & Alvim
ISBN: 9789723714654


Sinopse

Os textos que compõem este livro têm proveniências diferentes: 6 figuram no Livro de Bem Comer, 14 em Histórias e Curiosidades Gastronómicas, 11 são inéditos. Os não inéditos foram objecto de revisão, emendas e acrescentos (nalguns casos substanciais). Escritores à Mesa (e outros artistas) resulta da necessidade de rearrumação, tendo em vista que os dois livros anteriormente referidos jamais serão reeditados como tais. Surgirão refundidos, aparados, apurados e aumentados num único volume, sob o título Bem Comer & Curiosidades, no fim do presente ano. A presente obra pretende ser uma homenagem sobretudo aos escritores que nem por serem dos maiores deixaram de tratar dum tema que muitos letrados enfadados (e enfadonhos) consideram matéria menor ou mesmo abominável. Que possa servir também de antepasto para uma há muito prometida Antologia da Gastronomia na Literatura Portuguesa (séculos XIII-XX), a vir ao mundo, se o permitirem o tempo e as potestades, em 2011.


Foi com grandes expectativas que me debrucei sobre este livro. Portugal, para mim, está sempre associado a "boa mesa". Mesmo em momentos de dificuldades consegue-se sempre fazer um repasto que não envergonhe ninguém. Sendo descendente de alentejanos, essa era uma realidade desde sempre implantada na minha mente... Mesmo sem grandes luxos, havendo pão, azeite e meia dúzia de ingredientes surgia na mesa uma açorda, um ensopado ou, nos meses quentes de Verão, o belo gaspacho. A imaginação tornava-se superior à privação. E, se fossem disponibilizados meios sem restrições, surgia à refeição um verdadeiro banquete... Peixe, carne, enchidos, queijos, tudo ganhava papel de destaque na hora da partilha. E, nos livros de autores lusófonos, a mesa era isso mesmo; um lugar de partilha em que, a simples leitura da descrição do que nela se dispunha, abria o apetite e alagava a boca do leitor.

Gostei do livro, mas... Se calhar as minhas expectativas eram demasiado elevadas, mas fiquei com um sentimento de vazio... como se visse defraudada uma promessa de grandeza que não se elevara a toda a sua potencialidade.

O autor descreve não só as referências literárias "à mesa", como também tenta, sempre que possível, explicar o contexto em que estas se inserem. Ou seja, chega ao ponto de localizar geograficamente restaurantes e hoteís, partilhar preçários, etc etc etc. Ainda assim, e por muito prazer que tenha tido na leitura do livro, não me "satisfez"...


Nota 3

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Revolutionary Road




Revolutionary Road
Richard Yates
Biblioteca Sábado
EAN 5602831080654


Sinopse

O primeiro romance de Richard Yates, Revolutionary Road, tornou-se um clássico logo após a sua publicação em 1961. Nele, Yates oferece um retrato definitivo das promessas por cumprir e do desabar do sonho americano. Continua hoje a ser o retrato da sociedade americana.
Um casal jovem e promissor, Frank e April Wheeler, vive com os dois filhos num subúrbio próspero de Connecticut, em meados dos anos 50. Porém, a aparência de bem-estar esconde uma frustração terrível resultante da incapacidade de se sentirem felizes e realizados tanto no seu relacionamento como nas respectivas carreiras. Frank está preso num emprego de escritório bem pago mas entediante e April é uma dona de casa frustrada por não ter conseguido seguir uma promissora carreira de actriz. Determinados a identificarem-se como superiores à crescente população suburbana que os rodeia. decidem ir para a França onde estarão mais aptos a desenvolver as suas capacidades artísticas, livres das exigências consumistas da vida numa América capitalista. Contudo, o seu relacionamento deteriora-se num ciclo interminável de brigas, ciúmes e recriminações. o que irá colocar em risco a viagem e os sonhos de auto- -realização.


Tal como aconteceu com o Quem Quer Ser Milionário, também com este livro surgiu na minha lista de futuras leituras após ter visto o filme. Mas, se no caso do primeiro, foi o seu lado de entretenimento e de possibilidades infidáveis que me atraiu, neste foi a inevitabilidade da vida humana com todos os seus dramas por trás de portas fechadas. Este NÃO é o livro a ler se se quiser afastar dos negrumes do dia-a-dia... Pelo contrário. No entanto, e tendo já uma pilha de livros "a ler", a ganhar pó nas várias prateleiras espalhadas pela casa, não via necessidade em comprar imediatamente um livro do qual já conhecia a história. Os seus (quase) 17€ podiam ser aproveitados em viagens literárias aventureiras das quais ainda não conhecia o percurso. Mas foi então, quase como que em resposta a uma prece que nunca chegara a fazer, que a revista Sábado decidiu prendar os seus leitores com mais uma colecção de magníficas obras a 1€ cada. Revolutionary Road era uma delas!!! (já agora, e em forma de nota e em resposta a todos os que já me perguntaram, desconfiados, da qualidade da tradução dos livros que saem com a revista, dou como exemplo este, cuja tradução de Isabel Baptista foi cedida pela editora Civilização, a editora a comercializar o livro em Portugal - EAN/ISBN 9789722626361).

Quanto ao livro propriamente dito... Excedeu as minhas expectativas!!! A maneira como Richard Yates elaborou esta brilhante obra de arte literária é de uma mestria e excelência recomendáveis. A história, que aborda as insatisfações e frustrações profissionais e pessoais de um jovem casal a viver o suposto "american dream", está escrita de uma maneira que sentimos, tal como eles, que os dias são rotineiros e custam a passar... Não quero com isto dizer que o livro esteja escrito de uma forma "secante". Muito pelo contrário. Acredito ser este um dos exemplos do génio literário de Yates. Uma demonstração de como, ainda que dizendo-se muito, consegue-se passar uma sensação de quase estagnação. No entanto, a partir do momento em que Frank e April decidem perseguir o seu sonho e viajar para Paris, numa fuga à "vida quotidiana" e numa perseguição final dos sonhos há muito esquecidos, os momentos parecemn encadear-se uns nos outros com uma rapidez que, só os que já se entregaram aos sonhos, conseguem reconhecer. Existe uma sofreguidão, um desejo de romper as barreiras e algemas sociais que nos impomos a nós próprios, que o tempo parece compactuar com essa nossa urgência, apressando os ponteiros do relógio. É então que a "vida real" e o senso comum chegam e põem um pé no travão das ideologias. Os "mas", "e se", "será que...", multiplicam-se na nossa mente até congelarem os movimentos e aterrorizarem a esperança... E acabamos por nos conformar à existência neutra e segura que abominamos, que nos aprisiona mas nunca falha. Adorei!!!


Nota 4

quinta-feira, 1 de abril de 2010



Florbela Espanca

Florbela é, possivelmente, a minha poetisa favorita. Talvez seja a minha costela alentejana a falar, mas a verdade é que considero os seus poemas belíssimos... A simplicidade e honestidade que colocou no papel iluminaram todas as palavras que nos deixou. Não tinha pretensões, não tentava elevar-se intelectualmente por palavras caras ou sentimentos insinceros... Simplesmente, ERA, SENTIA, DIZIA. E na Poesia, uma arte tantas vezes considerada elitista, Florbela tem o condão de se ligar a toda e qualquer pessoa.

Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo, criada de servir (como se dizia na época), que morreu com apenas 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai incógnito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se como curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a morte da poetisa, por altura da inauguração do seu busto, em Évora, e por insistência de um grupo de florbelianos, a perfilhou. Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos. Os casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar». Postumamente foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.

in http://www.astormentas.com/




Velhinha

Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente em mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa! ...”

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até o fim!

Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente ...
Já murmuro orações ... falo sozinha ...

E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"