quarta-feira, 29 de julho de 2009

Duas vozes sonantes, uma mesma mensagem.





Cartas de Amor
Anaïs Nin & Henry Miller
Caleidoscópio
EAN 9789896580254
ISBN 978-989-658-025-4




Ao contrário do que o título poderia sugerir esta não é (apenas) uma recolha de cartas de teor amoroso entre dois vultos da literatura mundial. É, também, um relato de duas vidas, sendo que, na junção/relação das duas, tomamos, também, conhecimento, da individualidade de cada uma. É um trocar de ideas, de inspirações. É, acima de tudo, o relato de uma amizade que deu origem a um amor e que, uma vez terminadas as aspirações românticas de parte a parte, manteve-se, até ao fim, a amizade.
Todos, ou quase, já ouviram, pelo menos, falar do triângulo Anaïs-Miller-June (o que, sendo extremamente injusto para Hugh, marido de Anaïs, que se viu imediatamente afastado da equação, acabou por se tornar quase como a santíssima trindade da literatura e da vivência erótica/sensual). Aqui, neste livro, quase nos esquecemos dessa carga sexual da relação dos dois autores, sentindo, perante nós, uma relação de partilha, confidência, companheirismo e, até mesmo, de auto-ajuda entre um homem e uma mulher.
Mas não se sintam defraudados… Também não faltam cartas de amor.
Nota 3

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Regresso ao Passado!




Pezinhos de coentrada
Alice Vieira
Casa das Letras
EAN 9789724616933
ISBN 972-46-1693-2




Este foi, definitivamente, um regresso ao passado! Não ao da autora, ou da sua escrita, mas ao meu, através da visita a uma das escritoras que marcaram a minha infância.
Desde miúda que gosto da escrita da Alice Vieira. Em pequena mergulhei na crise existencial de Abílio e da sua vontade de mudar de nome em "Viagem à roda do meu nome", e deliciei-me com o amor (e o desgosto) sénior em "Às dez a porta fecha" (provavelmente o livro de Alice de que mais gostei), entre outros. Sentia saudades! Já por várias vezes peguei em livros que a autora escreveu em parceria com outros grandes nomes da nossa literatura, mas arranjava sempre desculpa para os deixar na parteleira. Até que percebi... Eu não queria a Alice Vieira como co-autora de um livro. Eu queria um livro com a essência da Alice Vieira... Só que para adultos.
Não me decepcionei. As crónicas e os contos têm, todos eles, o cunho pessoal, a inteligência, o humor e, por vezes, a acidez da autora que me seduziu na infância. A apontar algo negativo (e, pelo menos eu, quanto mais gosto mais dou por mim a ver as coisas com olho crítico, sempre na expectativa da perfeição) teria de referir que o tamanho limitado das histórias impedem a autora de trabalhar as personagens como tão bem sabe fazer. Mas, espero, que Alice venha a colmatar essa falha lançando (brevemente) um romance para as gerações que, tendo crescido com ela, já estão nos intes e intas.
De qualquer forma, acho que este é um livro a ser saboreado por todos aqueles que, em miúdos, se deixaram apaixonar pelos livros de uma senhora chamada Alice Vieira.
Nota 3

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Conflito de gerações socialmente (in)correcto.




O Baile
Irène Némirovsky
Difel
ISBN: 972-29-0180-X
EAN: 9789722901802



Sinopse

Os Kampf, acabados de transpor o limiar da opulência devido a uma miraculosa jogada de Bolsa, decidem dar um baile para se lançarem na sociedade. Antoinette Kampf tem catorze anos e sonha estar presente na grande ocasião, mesmo que por breves instantes. No entanto, Mme. Kampf toma a irrevogável decisão de não permitir a presença da filha, já suficientemente crescida para atrair sobre si olhares de eventuais admiradores.
Antoinette, revoltada e em desespero, vai vingar-se com naturalidade e sem premeditação.
Os temores trágico-cómicos de arrivistas que recebem pela primeira vez pessoas que desprezam e que nutrem por eles o mesmo tipo de sentimento, a rivalidade mãe-filha que finalmente se manifesta a pretexto de uma frivolidade, a amarga solidão de uma criança que já deixou de o ser, tudo isto nos é oferecido por este livro fascinante e perturbador.
O Baile foi adaptado ao cinema, com Danielle Darrieux no principal papel.



Nas 74 páginas que compõem este pequeno livro, a autora leva-nos ao encontro de uma situação fundamental na relação entre mãe e filha; quando o declínio social e pessoal da primeira se cruza com a ascenção da segunda dando-se o equilíbrio na relação das duas.
A história centra-se na família Kampf, composta pelo pai, pela mãe e pela filha de catorze anos, que, graças a jogadas de sorte na bolsa, consegue ascender à alta sociedade parisiense. Na sua tentativa constante de esconder as raízes humildes, ao mesmo tempo que procuram integrar verdadeiramente a classe a que ascenderam, os Kampf decidem dar um baile para o qual convidam duzentas das personalidades mais emblemáticas da sociedade de Paris. Antoinette, a filha, só pensa em, também ela, assistir a tão faustosa festa mas a mãe, Rosine, na esperança de ter agora as atenções que não teve em jovem (e pobre), e vendo na juventude e beleza da filha uma ameaça ao seu desejo, proíbe a presença da rapariga no baile. Antoinette, motivada pelo rancor, pela raiva e pelo dramatismo característico da idade decide vingar-se... de uma forma que os seus pais nunca esquecerão.
Nota 3

domingo, 12 de julho de 2009

A rapidez de uma vida na lentidão de um dia.






Vinte e quatro horas na vida de uma mulher
Stefan Zweig
Editora Esfera dos Livros
ISBN 9789896261108



Vinte e quatro horas são o bastante para deitar por terra a reputação de uma mulher... Para ultrapassar essa perda, por vezes décadas não são suficientes.
O livro começa com o choque social de uma mulher casada que foge de uma estância de veraneio com o amante, jovem, deixando para trás o marido e as filhas. Nas áreas sociais da estância, à hora das refeições, do chá ou, mesmo, do ocasional jogo de cartas, murmura-se o nome da adúltera, enquanto, demonstrando pena pela família, se ostenta o orgulho da superioridade moral de cada um. Só um jovem não condena... Só este parece aceitar a imprevisibilidade do amor. E é a ele que a mais velha hóspede, a matriarca do grupo, o pilar de justiça e rectidão moral em que os outros se apoiam, escolhe confessar o seu pecado... Que, também ela, já amou fora do casamento... Acabando esta por ser a confissão das 24h mais marcantes da sua vida.

sábado, 4 de julho de 2009

A escuridão da alma humana não tem limites...





O poder das trevas
Leon Tolstoi
Teatro







Quão baixo pode o ser humano descer, quando guiado por uma ambição desmedida? Tolstoi, nesta brilhante peça de teatro dá-nos a resposta... Desce até onde tiver de descer! Independentemente dos caminhos que tiver de percorrer.
A história passa-se na vida e na casa de Piotr, aldeão rico casado em segundas núpcias com Anisia, uma mulher vaidosa e ambiciosa, dez anos mais nova que o marido. Logo de ínicio percebemos que o destino de Piotr está marcado... Não será uma vida longa. Decisão essa tomada pela sua mulher assim que esta se apaixona por Nikita, um criado na casa do marido, jovem de 25 anos, com pretensões a don juan, que encontra na patroa uma forma de ascender a outra sociedade. Assim, e com a ajuda de Matriona, mãe de Nikita, Anisia consegue livrar-se do encargo do marido, podendo assumir publicamente a relação com o amante. Como se o fantasma da morte de Piotr não fosse o suficiente para ensombrar a felicidade conjugal do casal, o facto de terem de afastar Akulina, filha do primeiro casamento de Piotr, a quem a súbita morte do pai e subsequente relação da madrasta não parecem coincidência, bem como o aparecimento de uma antiga amante de Nikita e respectivo filho, faz com que o casal enamorado vá descendo cada vez mais, demonstrando uma falta de moralidade apenas comandada por uma ambição desmedida.
Mas será que se consegue calar uma consciência que grita em agonia?
Nota 5