domingo, 12 de agosto de 2012

Não Nos Roubarão a Esperança



 
Não nos Roubarão a Esperança
de Júlio Magalhães
Editor: A Esfera dos Livros
ISBN: 9789896263997
 
 
 
Sinopse
Poderá o amor nascer em tempo de guerra? No Portugal de Salazar e nos tempos conturbados da guerra civil espanhola, Miguel Oliveira, voluntário português ao serviço das tropas nacionalistas de Franco, é feito prisioneiro pelos republicanos, depois de o seu avião ter caído nos arredores de Barcelona. Um feliz golpe de sorte salva-o de um julgamento sumário e de uma morte certa por fuzilamento. Será trocado por um oficial republicano, perto de Madrid. Miguel inicia uma longa viagem de automóvel que o vai levar de Barcelona a Madrid num território pejado de perigos. Será durante essa intensa viagem que ele conhecerá e se apaixonará por Dolores, a jovem republicana responsável por levá-lo à capital espanhola. Outrora uma defensora ardente da República, Dolores está nos finais da guerra, cansada de ver tanta morte e destruição. Para sua grande surpresa e sem nunca abandonar os seus ideais, a jovem republicana encontrará em Miguel um bom confidente e até um protetor. Tendo como pano de fundo a violenta paisagem desenhada pela guerra civil, Não nos roubarão a esperança, narra o nascimento de um grande amor que terá de provar ser mais forte do que o ódio.
 
 
 
Júlio Magalhães leva-nos até ao cenário da Guerra Civil Espanhola para nos contar a história de dois portugueses, dois irmãos, sangue do mesmo sangue, separados por convicções diferentes. Duarte e Pedro, que partem para o país vizinho, para combater em diferentes lados da barricada. Um ao lado dos nacionalistas e o outro dos republicanos. Contudo, para além da violência e do drama do conflito, estes dois irmãos irão encontrar o amor.
 
 
 
" Junho de 1938. 
Arredores de Barcelona.
Duarte abriu os olhos e levou alguns segundos a distinguir o que estava à sua volta.  Um bando de crianças sujas e mal vestidas olhava para ele tentando disfarçar o medo.  O piloto levou a mão à testa e sentiu o sangue antes de o ver.  Uma dor terrível apertava-lhe o pé esquerdo, ou talvez o direito.  Tudo naqueles primeiros instantes lhe parecia confuso.  Na sua cabeça uma imagem repetia-se.  O fumo e as chamas que saiam do grande motor do avião, o chão a aproximar-se e os gritos do seu copiloto.  Depois de um violento embate contra um terreno seco tudo ficou, subitamente, estranho.  Não conseguia lembrar-se de mais nada.  Até aquelas crianças ranhosas e desdentadas não faziam sentido para Duarte.  Que raio estavam ali a fazer?  Onde estava o seu avião?  Olhou para trás e sentiu, mais do que viu, os restos esventrados do seu aparelho italiano com o fogo a consumir a madeira que lhe dava forma.  Mais ao longe, ainda altivo, o motor rodeado por chamas.
Quis levantar-se, mas o pé não o deixou.  Soltou um grito de dor.  As crianças assustaram-se com o grito e recuaram uns passos tímidos.  Aos poucos foram perdendo o medo e voltaram a aproximar-se do piloto português.  Duarte podia, agora, ver com um pouco mais de detalhe as seis ou sete crianças que o rodeavam.
Porque tinham elas espingardas nas mãos?  Duarte esforçou-se para focar a imagem tanto quanto lhe deixava aquela maldita dor na cabeça mesmo por cima dos olhos.  Sobressaltou-se.  As crianças tinham mesmo armas e estavam apontadas a ele?  Bastaram mais uns segundos para Duarte perceber que era tudo a brincar. 
As espingardas eram de pau.  A fingir.  Sem saber como, Duarte encontrou forças para sorrir.
Uma das crianças, mais afoita, aproximou-se com a sua arma a fingir em punho.  Encurvou-se ligeiramente para apontar a sua espingarda faz-de-conta ao corpo deitado do piloto.  Não devia ter mais de 8 anos e uma cara marcada por sardas.  A criança fechou a boca e franziu o sobrolho para tentar encontrar a cara mais terrível que conseguisse.  Se a espingarda era falsa, a sua voz era verdadeira e o ódio com que disse aquela curta frase assustou Duarte:
- Pum!  Estás morto, fascista dum filho da puta!"

(Pré-publicação de um excerto do primeiro capítulo do livro “Não Nos Roubarão a Esperança”, de Júlio Magalhães, publicado na revista Tentações na edição 430 da revista Sábado)
 

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