sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mary Balogh




Um Verão Inesquecível
de Mary Balogh
Editor: Edições Asa
ISBN: 9789892320021
 
 
Sinopse
 
Kit Butler é um dos mais afamados solteirões de Londres, casar é a última coisa que lhe passa pela cabeça. Mas a sua família tem outros planos. Para contrariar o casamento que o pai lhe arranjou, Kit precisa de encontrar uma noiva... e depressa. Entra em cena Miss Lauren Edgeworth. Lauren foi abandonada em pleno altar pelo seu noivo, Neville Wyatt. Destroçada, decide que não voltará a passar pelo mesmo: nunca casará.
O encontro entre estas duas forças da natureza é tão intenso como uma tempestade de verão... e ambos engendram um plano secreto. Lauren concorda alinhar na farsa em troca de um verão recheado de paixão e aventura. No final, ela romperá o noivado - o que afastará possíveis pretendentes - deixando-os a ambos livres. Tudo corre na perfeição, até que Kit faz o impensável: apaixona-se por Lauren. E um verão já não é suficiente para ele. Mas o tempo não para e Kit sabe que terá de apelar a mais do que as suas vulgares armas de sedução para conseguir convencer Lauren a entregar-lhe o seu coração... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, para o resto das suas vidas.
 
 
 
Esta autora já há algum tempo tinha agraciado as livrarias com o seu livro "Uma Noite de Amor" (Edições Asa, ISBN: 9789892312354), o qual tinha uma história com bastante potencial para o género em que se insere (literatura histórica-light) mas que, inexplicavelmente, passou um pouco despercebida. 
 
 
 
 
Aqui fica o início de "Uma Noite de Amor":
 
"Quando Lily acordou bem cedo na manhã seguinte, lavou a cara e as mãos na água fria do ribeiro e arranjou-se o melhor que pôde antes de subir o carreiro de regresso ao declive coberto de fetos e atravessar o arvoredo até à parte de baixo do relvado tratado.
Parou para observar o que lhe pareceram estábulos com a casa por trás.  Ambas as construções pareciam maiores e mais proibitivas à luz da manhã do que lhe haviam parecido na noite anterior.  E havia uma grande atividade em curso.  Havia inúmeras carroças no caminho junto aos estábulos e moços de estrebaria e cocheiros atarefados por todo o lado.  Os convidados da festa da noite anterior devem ter passado lá a noite e estavam a preparar-se para partir, calculou Lily.  Ainda não era a altura certa para fazer a sua entrada em cena.  Teria de esperar até mais tarde.
Tinha fome, constatou depois de regressar à praia, e decidiu ocupar algum tempo passeando até à aldeia, onde talvez podesse comprar um pequeno naco de pão.  Mas quando lá chegou, descobriu que aquele não era de maneira nenhuma o local tranquilo e deserto que encontrara na noite anterior.  A praça estava quase totalmente cercada por grandes carruagens - talvez algumas fossem as mesmas que vira mais cedo junto às cavalariças da abadia.  O próprio largo estava pejado de gente.  As portas da estalagem estavam escancaradas e a multidão que entrava e saía desencorajou Lily de se aproximar.  Verificou que a entrada da igreja estava apinhada, com uma multidão ainda mais compacta do que a do largo.
- O que é que se passa? - perguntou a duas mulheres paradas nos limites do largo junto à estalagem, ambas a olhar para a igreja, uma delas em bicos de pés.
Viraram-se para olhar para ela.  Uma observou-a de alto a baixo, tendo percebido que não era da terra, e franziu o sobrolho.  A outra revelou-se mais amistosa.
- É um casamento - explicou - Metade da alta sociedade de Inglaterra está cá para o casamento de Miss Edgeworth com o conde de Kilbourne.  Não sei como é que se conseguiram enfiar todos dentro da igreja.
O conde de Kilbourne!  Mais uma vez aquele nome soou-lhe como se fosse o de um estranho.  Mas ele não era um estranho.  E o significado do que aquela mulher lhe dissera atingiu-a como um soco.  Ele ia casar-se?  Agora?  Dentro daquela igreja?  O conde de Kilbourne ia casar-se?
- A noiva acabou de chegar - acrescentou a outra mulher, já mais descontraída com o facto de ter uma estranha a ouvir o que dizia - Não a viu, o que foi uma pena.  Toda de cetim branco, devia ter visto, com a cauda do vestido rendilhada e um chapéu e uma rede a cobrir-lhe o rosto.  Mas se se deixar ficar por aqui um bocado, pode vê-los a sair assim que os sinos começarem a tocar.  Atrevo-me a dizer que a carruagem vai dar a volta por este lado antes de voltar para trás e passar os portões, para que todos possamos acenar e ver os noivos.  Pelo menos, é o que diz o Mr. Wesley, o estalajadeiro.
Mas Lily não esperou por mais explicações.  Atravessou apressadamente o largo, abrindo caminho por entre as pessoas ali presentes.  Já ia meio a correr quando chegou aos portões da igreja.
 
Neville conseguiu perceber, pela agitação na porta da igreja, que Lauren chegara com o barão Galton, o avô dela.  Sentiu-se um crescendo de entusiasmo e ansiedade nas fileiras de bancos da igreja, que albergavam toda a fina-flor dos ton, assim como uma série de elementos das famílias locais mais proeminentes.  Várias cabeças se voltaram para olhar para trás, embora ainda não houvesse nada que ver.
Neville sentiu como se alguém lhe estivesse a apertar o peitilho ao pescoço e lhe tivesse colocado uma mão-cheia de enérgicas borboletas no estômago.  Estas duas sensações já o acompanhavam, em diversos graus de intensidade, desde antes do pequeno-almoço que se vira incapaz de ingerir, mas voltou-se, desejoso de olhar pela primeira vez a sua noiva.  Viu Gwen de fugida, curvada para a frente aparentemente a endireitar a cauda do vestido de Lauren.  A prórpia noiva se deteve, desesperadamente fora do alcance da vista.
O vigário, esplendidamente vestido para a ocasião, estava logo atrás do ombro de Neville.  Do outro lado, Joseph Fawcitt, marquês de Attingsborough, o primo varão mais próximo de si em idade e desde sempre um amigo chegado, aclarou a garganta.  Todas as cabeças. percebeu Neville, se voltaram então para olhar para trás, ansiando pela entrada da noiva.  Que importância tinha um mero noivo, afinal de contas, quando a noiva estava prestes a aparecer?  Lauren chegou na hora certa, calculou, sorrindo dissimuladamente.  Não teria sido próprio dela atrasar-se um minuto que fosse.
Ele mexeu nervosamente os pés quando os movimentos ao fundo da igreja se tornaram mais evidentes e havia até um som de vozes demasiado alto, inapropriado para o interior de uma igreja.  Alguém se dirigia a outra pessoa, dizendo com uma insistência cortante que ele ou ela não podia ali entrar.
Mas ela entrou pela porta e ficou à vista dos que estavam reunidos no interior da igreja.  Só que estava sozinha.  E não se apresentava vestida como uma noiva, antes como uma mendiga.  E não se tratava de Lauren.  Avançou apressadamente uns passos pela nave antes de se deter.
Era uma alucinação provocada pela ocasião, indicou a Neville uma parte recônditada sua mente.  Ela parecia-lhe chocante e penosamente familiar.  Mas não se tratava de Lauren.  A visão dele focou-se num único ponto.  Olhou ao longo da nave da igreja, como se estivesse a fitar um longo túnel - ou através do olho de um telescópio -, para a ilusão que ali se plantara.  A sua mente recusava-se a funcionar em pleno.
Alguém - dois homens, na verdade, reparou ele distraidamente - a agarrou pelos braços, levando-a para fora do alcance da vista.  Mas o súbito terror de que ela desaparecesse, para nunca mais ser vista, libertou-o da paralisia que o assolara.  Ergueu um braço, indicando que deveriam parar.  Não se ouviu falar, mas toda a gente se voltou bruscamente para o fitar e ele apercebeu-se do eco da voz de alguém a dizer algo.
Avançou dois passos.
- Lily? - sussurrou.  Tentou regressar à realidade e passou a mão rapidamente pelos olhos, mas ela continuava ali, com um homem a prender-lhe cada braço e a olhar para ele, como que aguardando instruções.  Sentiu um calafrio a percorrer-lhe a cabeça e as narinas.
- Lily? - repetiu, desta vez mais alto.
- Sim - respondeu ela na voz suave e melódica que assombrara os seus sonhos e a sua mente tantos meses depois de...
- Lily - disse ele, e sentiu-se estranhamente à parte de toda aquela cena.  Escutou as suas próprias palavras como se fosse outra pessoa a proferi-las. - Lily, tu estás morta.
- Não - disse ela - Eu não morri.
Ele continuava a vê-la descer o túnel da sua alucinação.  Só ela.  Só Lily.  Tinha esquecido a igreja, as pessoas agitadas nos bancos, o vigário a aclarar a garganta, Joseph a pousar-lhe uma mão no braço, Lauren parada junto à porta atrás de Lily, de olhos arregalados com a premonição iminente de um desastre.  Ele agarrou-se à visão.  Não iria deixá-la escapar.  Outra vez não.  Não a deixaria escapar de novo.  Avançou mais um passo.
O vigário aclarou novamente a garganta e Neville por fim compreendeu que estava na Igreja de Todas as Almas, em Upper Newbury, no dia do seu casamento.  Com Lily parada na nave lateral, entre ele e a sua noiva.
- Meu senhor - disse o vigário, dirigindo-se a ele -, conhece esta mulher?  Deseja que seja retirada para que possamos dar seguimento ao matrimónio?
Se ele a conhecia?
Se ele a conhecia?
- Sim, conheço-a. - respondeu, numa voz tranquila, appesar de plenamente consciente de que cada um dos convidados do casamento estava suspenso das suas palavras e o ouvia atentamente - Ela é a minha esposa."

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