Ácido sulfúrico
Amélie Nothomb
Edições Asa
EAN 9789724150864
ISBN 978-972-41-5086-4
Nesta altura do ano, ao trabalhar numa livraria, o trabalho e o cansaço são muitos e o tempo e disposição de leitura poucos. No entanto, ao arrumar os livros um dia, no trabalho, este sobressaiu por entre os outros. Primeiro porque já algum tempo esta autora me suscitava alguma curiosidade, segundo porque, por ser um livro pequeno, poderia (achava eu) lê-lo rapidamente... Claro que não contava em adormecer ao fim de cada parágrafo!
Num livro que é, simultaneamente, uma crítica a um dos períodos mais negros da história e da sociedade actual, Amelie Nothomb cria um ambiente extremo num reality show, "Concentração", onde os participantes se dividem em dois grupos dos quais um está destinado a perder tudo. Passado num ambiente em tudo similar aos campos de concentração nazis, encontramos, de um lado, os kapo, os participantes que se propuseram ao concurso, pessoas maioritariamente estúpidas, incultas e sedentas de fama o suficiente para acatarem ordens sem as questionarem. Do outro lado encontramos os prisioneiros, pessoas "sequestradas" das ruas contra a sua vontade, e a quem nada mais resta senão aguardar um milagre que lhes devolva a liberdade. Todos os dias os prisioneiros escolhidos pela organização do programa são chamados durante a apresentação matinal e encontram o seu fim (do programa e da vida).
No meio da podridão humana e social que é "Concentração", Zdena, uma das kapo mais crueis, que é, como podemos ler na sinopse, "uma mulher desempregada que espera aproveitar o seu posto de kapo para desencadear a sua vingança sobre a sociedade", vai encontrar o seu objecto de desejo. CKZ 114. A jovem, tal como todos os outros prisioneiros, fora desde o início privada da sua individualidade e reconhecida como "uma coisa" à qual fora atribuída uma matrícula, à semelhança dos judeus durante a Segunda Grande Guerra, talvez na vã esperança de impedir uma empatia entre o público e os detidos. Zdena vive obcecada com a jovem e deseja, mais que nada, atribuir um nome ao rosto que a atormenta. Mas CKZ 114, ou Pannonique (pois é esse o seu nome) não quer ceder ao pedido da guarda receando perder, assim, o que ainda considera um direito seu, algo pessoal que a relembra que, acima de tudo, é humana. Quando nos roubam a identidade nada é mais sagrado que o nosso nome. Quando nos sentimos atraídos por algo ou alguém nada tem mais valor que poder dar um nome ao objecto do nosso desejo.
É a partir desta premissa que se desenrola o livro. Um jogo de desejos antagónicos que se medem e gladiam durante uma luta de interesses.
Nota 4
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