segunda-feira, 25 de maio de 2009

A vida no feminino.




A Cor Púrpura
Alice Walker



Este livro da escritora afro-americana retrata de forma soberba a vida das mulheres negras no pico da era Jazz. Somos levados a testemunhar as diferentes formas de subjugação a que essas mulheres estavam sujeitas.
Temos o caso de Celie, a doce e submissa personagem principal, abusada sexualmente pelo homem que julgava seu pai, afastada dos filhos que dele teve e vendida por este a um homem, para casar, que apenas a via como uma criada da casa e dos filhos durante o dia e sua, na cama, quando à noite assim o decidia.
Presenciamos a secreta subjugação de Shug Avery, cantora de jazz e amante do marido de Celie que, devido à escolha que fez de profissão, se vê colocada de parte pela sociedade.
Conhecemos Sofia, a fisicamente forte esposa do filho do Senhor, o marido de Celie, que se recusa deixar bater ou mesmo abater por qualquer homem, mas não consegue deixar de se sujeitar à branca mulher do presidente da câmara.
Todas estas mulheres têm a sua fraqueza. Todas elas, excepto Celie, têm a sua força desde o início da história. No entanto, mesmo a pequena, fraca e feia Celie descobre a sua força. Pois se há coisa que as mulheres deste romance descobrem, nas relações que mantém entre si e descobrindo, através dos olhos umas das outras, as relações que mantém com os homens das suas vidas, é que a força que necessitam está dentro de si e que a mão de que precisam para as ajudar está na extremidade do seu próprio braço.
Nota 4

terça-feira, 19 de maio de 2009

A verdade é mais estranha que a ficção!




The Suspicions of Mr Whicher or The Murder at Road Hill House
Kate Summerscale
Bloomsbury
EAN 9780747596486
ISBN 978-0-7475-9648-6



Se gosta de policiais, de crimes verdadeiros, da falsidade e hipocrisia da era vitoriana ou, preferencialmente, dos três, então este livro é para si.
Escrito pela jornalista Kate Summerscale este livro, que não sendo ficcional é um excelente policial, foi premiado, em 2008, com o Samuel Johnson Prize, um dos mais conceituados prémios para livros de não-ficção.
A história remonta à noite de 29 para 30 de Julho de 1860, para a casa da abastada família Kent. A noite foi tranquila, como de costume, e nada perturbou a harmonia familiar da casa. No entanto, ao acordar, a ama da família nota a ausência do filho mais novo de Samuel Kent, Saville Kent, de três anos e dez meses. Como é óbvio, rapidamente a família e vizinhança começam a procurar a criança, acabando por encontrá-la morta atirada para o poço da casa de banho externa da casa. Não havendo provas de entrada forçada na propriedade, todas as atenções se voltam para a família e empregados da casa. E, numa investigação que deitaria por terra o bom nome da sociedade e, até, de alguns membros da força policial britânica, a solução acaba por ser a mais óbvia e, ao mesmo tempo, a mais negada.
A história é pesada, não adequada a todos os gostos literários, e a morte de uma criança é sempre um assunto delicado e repulsivo, mas a autora limitou-se a fazer o que já fazia na sua carreira de jornalista: relatar factos e contar uma história. Aliás, um dos maiores elogios a ser feito a esta obra é precisamente ao trabalho de pesquisa a que Summerscale se entregou. Tudo o que escreveu (desde roupas usadas ao estado do tempo) baseia-se em dados concretos e em relatos deixados. Na verdade, até os "diálogos" entre as personagens mais não são que transcrições de relatos policiais e pessoais da época.
Dentro do estilo é um livro a não perder... Mas, infelizmente, ainda não se encontra traduzido para português.
Update - Soube hoje que o livro será editado em português!!!
Nota 4

sábado, 16 de maio de 2009

Meninas exemplares!




Mulherzinhas
Louisa May Alcott



Como tantas outras escritoras da sua época, Louisa trabalhou, temporariamente, como perceptora, função que permitia a jovens instruídas, mas de famílias de poucos recursos, ganharem algum dinheiro, para ajudar as famílias, de forma socialmente aceitável. Tendo, no entanto, uma grande preocupação em garantir o sustento da família, trabalho no qual, aparentemente, o seu pai não tinha grande sucesso, Louisa iniciou a sua carreira de autora.
Tendo-se voluntariado como enfermeira durante a Guerra Civil, e tendo sido enviada para casa ao contrair febre tifóide, Louisa May Alcott teve o primeiro contacto com a fama ao publicar Hospital Sketches, em 1863. Como as necessidades financeiras da família exigiam uma maior produção literária da sua parte, escreveu a obra autobiográfica Mulherzinhas, em 1868/69. Baseado nas memórias da autora da sua própria infância, este livro relata as aventuras domésticas de uma família de poucos recursos, mas com uma visão optimista e esperançada da vida, em New England.
Através das histórias das irmãs March (Meg, Jo, Amy e Beth), aprendemos, com elas, que o carácter de alguém é o seu maior tesouro, pelo que se deve sempre aperfeiçoá-lo. Esta foi, na minha infância, uma das minhas bíblias de cabeceira. A minha vivência, no entanto, não tinha nada a ver com o papel limitado das jovens retratadas no romance. Mas negar que as mulheres foram condicionadas dessa maneira é tentar negar uma parte integrante da história feminina. Esta é, na minha opinião, um livro a manter nas bibliotecas das meninas de todas as gerações. Se não como um guia de conduta, pelo menos como uma aula (disfarçada) de um passado não muito distante. E, além do mais, é sempre bom quando, em crianças, conseguimos acreditar que as boas acções são recompensadas.
Nota 4

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Amor e Poesia na Ilha Negra...




O carteiro de Pablo Neruda
Antonio Skarmeta
Biblioteca Sábado




Durante anos afastei-me propositadamente deste livro por ter visto o filme e este me ter marcado pela positiva. Da mesma maneira que, quando gosto muito de um livro, receio a adaptação deste para o cinema, também tenho medo, quando gosto muito de um filme, de ler em seguida o livro que lhe deu origem (pois posso achá-lo aquém das expectativas nascidas da adaptação ou, até, achar que, afinal, o filme não faz juz à obra literária).
Aguardei, por isso, algum tempo antes de pegar neste livro, só o fazendo quando a única lembrança que tinha do filme era a de uma beleza poética, da qual não me lembrava a história. O livro não desaponta! A beleza poética do filme está presente na curvatura de cada letra, na importância que até a mais insignificante das palavras tem para contar uma singela história de amor apadrinhada por um dos maiores nomes da poesia mundial.
Esta é uma história de amor... Mas não é uma história de amor. É uma história de amizade, de desejo, de sexualidade e de ganhar e perder o liberalismo e a liberdade num país em construção.
Assim como o carteiro Mário Jiménez vai aprendendo com Pablo Neruda a importância das metáforas e com Beatriz González a grandiosidade do amor e do desejo, também nós nos apercebemos que, quando usada correctamente, a linguagem poética pode ser um complemento e uma celebração à linguagem universal dos sentimentos.
Nota 4

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A czarina de Rasputine.




Alexandra, a última czarina
Carolly Erickson
Aletheia Editores




Retrato da última czarina russa, a mulher que muitos culpavam pelo declínio da família Romanov, incide luz sobre a soberana que a história condenou. Descendente da rainha Victória de Inglaterra, Alexandra não herdou da sua antepassada as características que a tornaram uma das monarcas mais queridas dos seus súbditos. Pelo contrário, Alexandra parecia afastar-se cada vez mais do seu povo, vivendo uma realidade que em nada tinha a ver com a realidade do seu país de acolhimento. Vivendo em pleno luxo, e dando-se com médiuns, charlatões e ambiciosos de todos os extratos, a czarina não conseguia, nem queria, ver a verdadeira imagem do seu povo.
A sua vida centrava-se na sua família, no seu marido e filhos, e na meia dúzia de escolhidos que abrigara debaixo da sua asa (Rasputine foi um deles), e na sua certeza de que, sendo realeza, era superior ao comum mortal. Mesmo depois de presa continuou a acreditar que nada lhe aconteceria, devido à sua condição real, pelo que, juntamente com as suas filhas, se entreteve a costurar pedras preciosas no interior dos respectivos espartilhos, para levarem com elas quando fossem libertadas.
Mas o seu povo não lhe perdoou a cegueira em que sempre vivera, e Alexandra, juntamente com o resto da sua família, pagou com a própria vida.

Nota 4

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Namoro e sedução à antiga!



Ema
Jane Austen
Publicações Europa-América



Jane Austen demonstra neste romance que, apesar de a sociedade do seu tempo a ver como uma tímida solteira, dominava com mestria a escrita quer de romances quer da comédia. Podendo ser considerada uma comédia de enganos, em que nada do que parece é, esta obra desenrola-se ao redor da personagem que lhe dá nome, Ema Woodhouse.
Ema é uma jovem conceituada na sociedade, rica, bela, inteligente, segura de si e dos seus predicados, consciente do seu papel na sociedade e da sua superioridade em relação a quase todos que a rodeiam. Quando a jovem decide, ainda, aperfeiçoar as suas características de cupido, a confusão está lançada. Apesar de ser solteira e de não se querer casar, afinal, como ela própria está consciente, na sua posição não precisa de o fazer uma vez que não necessita de um homem que a sustente tendo em conta que já é detentora de uma considerável fortuna, julga-se capaz de decidir quais as compatibilidades entre o seu grupo de conhecidos... E não aceita de bom-grado quando os intervenientes dos seus jogos de acasalamento não se demonstram entusiasmados com os seus planos e não aceitam as suas escolhas. Acompanhamo-la, assim, num percurso de amadurecimento e melhoramento pessoal ao mesmo tempo que o impensável acontece... Sem que nada o fizesse prever, e contra a sua própria vontade, Ema vê-se enredada nas teias do amor. Será o cupido um bom conselheiro para si mesmo?
Nota 5

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Cartas a todos e a ninguém.



O que Darwin escreveu a Deus
José Jorge Letria
Oficina do Livro



"O que Darwin escreveu a Deus" é o último livro (para adultos) de um dos maiores vultos da literatura portuguesa dos nossos dias. E, mais uma vez, José Jorge Letria não compromete a qualidade e a fluência a que já nos habituou. Sendo esta obra constituída por uma colectânea de missivas que, na verdade, existiram apenas na pena do autor (ou, como diz o sub-título, cartas que nunca chegaram ao destino) poderá ser uma boa aposta para quem sempre desejou conhecer a escrita de Letria mas sempre teve algum receio em se aventurar num romance. As cartas que compõem o livro são tão díspares como as personalidades que as escrevem e as recebem. Podemos, finalmente, saber o que D. Afonso Henriques queria dizer à mãe... Como é que a Rainha Vitória de Inglaterra partilha com Diana de Gales os sucessivos escândalos da actual casa real britânica... O que a ciência tem a dizer à religião (com a carta que dá título ao livro)... E, até, o que Fernando Pessoa tem a dizer a... Fernando Pessoa.

Nota 3