Sempre Vivemos no Castelo
de Shirley Jackson
Editor: Cavalo de Ferro
ISBN: 9789896231194
Sinopse
«Chamo-me Mary Katherine Blackwood. Tenho dezoito anos e
vivo com a minha irmã Constance. É frequente pensar que se tivesse tido um pouco
de sorte poderia ter nascido lobisomem, porque o anular e o dedo médio das
minhas mãos têm o mesmo comprimento, mas tive de me contentar com aquilo que
tenho. Não gosto de me lavar, nem de cães ou barulho. Gosto da minha irmã
Constance, de Ricardo Coração de Leão e do Amanita phalloides, o cogumelo da
morte. Todas as outras pessoas da minha família estão mortas.» Assim inicia
Shirley Jackson o seu último romance, de 1962, considerado pela crítica uma das
obras-primas da literatura norte-americana. Neste, atinge o auge a sua perícia
narrativa de tornar real ao leitor um mundo inverosímil, conseguindo ao mesmo
tempo convencê-lo de que a loucura e o mal habitam os cenários mais comuns.
A-DO-REI este livro! Gostei tanto que, ontem, estava a acabá-lo e decidi deixar as últimas 10 páginas para hoje, por não querer despedir-me já dele. Gostei tanto que, hoje, ao aconselhá-lo a um colega da livraria, reparei que já fazia planos para relê-lo, ainda que me faltassem as 10 páginas deixadas de ontem.
Li várias opiniões sobre este livro em sites de leitura (basicamente por não conhecer nada da obra de Shirley Jackson) e reparei que a visão geral é que o livro é muito negro... que é difícil sentir empatia por qualquer das personagens... que a maioria das pessoas não sabe o que achar. Eu sei! Acho que sim, a atmosfera do livro é negra; sim, a personagem principal não captará, facilmente, a simpatia dos leitores; sim, é um livro que nos deixa incertos... mas é disso mesmo que gostei! Quero dizer... Quem de nós, no meio de um momento stressante, e confrontado com a opinião e acção antagónica das outras pessoas, não pensou "quem me dera que morressem!"? Ok... Talvez não necessariamente com estas palavras, mas vocês percebem a ideia!
Esta é a história da família Blackwood. A família Blackwood era, até há 6 anos atrás do início da acção, o pilar central de uma pequena aldeia norte-americana. Ricos, poderosos e pretenciosos, os Blackwood marcaram a vida da aldeia, não pelos melhores motivos. No início do livro, vemos que da família restam 3 membros: Marricat (Mary Katherine, 18 anos, narradora, presa nos seus 12 anos de idade), Constance (a irmã mais velha, de 28 anos, maternal, caseira), e o Tio Julian (preso a uma cadeira de rodas e a um certo dia, 6 anos antes). Através de Marricat descobrimos que a população local foge das meninas Blackwood como "o diabo da cruz" ainda que não hesitem em importuná-la nas raras vezes que tem de se dirigir à localidade às compras.
É que, há 6 anos, durante um jantar de família, todos os outros membros dos Blackwood morreram envenenados com arsénico colocado no açucar. Marricat estava de castigo, tendo-se portado mal, pelo que foi para a cama sem jantar. Constance não usava açucar em nada. O Tio Julian usou pouco, nas amoras, pelo que ficou para sempre enfermo, mas vivo. Os habitantes locais, convencidos da culpabilidade de Constance nas mortes da família, cantam uma canção feita por medida a Marricat, sempre que a vêm, onde insinuam a possibilidade de a irmã a envenenar. Constance torna-se a "celebridade" local e magotes deslocam-se à propriedade da família na tentativa de vislumbrar a assassina de ar plácido. E no meio disto tudo, restam os pensamentos de Mary Katherine ao olhar para os aldeões: "quem me dera que estivessem todos mortos, no chão... e eu passar-lhes-ia por cima!"
Nota 4