Duras Verdades
David Lodge
Edições Asa
EAN 9789724131283
ISBN 972-41-3128-9
Estava eu numa sessão de zapping numa destas noites em que a programação televisiva parece estar contra a minha vontade pessoal de vegetar em frente ao televisor quando encontrei, num canal com o enigmático nome E! (descobri que significa Entertainment!) aquele que será, porventura, o programa mais nauseante e descabido que até agora encontrei. O seu nome "Streets of Hollywood" O conteúdo... bem... Na verdade é uma sequência infidável de flashes de luz enquanto acompanhamos um grupo de papparazzi na sua nobre missão de descobrir coisas tão importantes para a humanidade como onde a Britney Spears vai à noite comer gelado, se a Lindsay Lohan se lembrou de vestir as cuecas desta vez ou qual o nome do namorado daquela hora da Paris Hilton. Para mim, que preso a minha individualidade e privacidade esta realidade nada mais é que a soma de todos os meus medos e terrores. Para as meninas perseguidas é... o êxtase. É para isto que vivem. Não digo trabalham porque, na grande maioria, o seu trabalho é servir de guia a este magote de fotógrafos. Ora, ao fim de 2 minutos (mais ou menos o tempo que o meu cérebro aguentou esta nova forma de tortura), e depois de mudar o canal, dei comigo a pensar neste livro. Já o li à algum tempo mas, com a sede cada vez maior que as pessoas parecem ter da celebridade (fácil e sem esforço, trabalho ou talento), este parece ser cada vez mais actual.
Como diz a sinopse da obra:
"Adrian Ludlow, escritor reputado e autor de um livro que fez grande sucesso, procura agora a obscuridade, vivendo numa pequena casa por detrás do aeroporto de Gatwick. Quando Sam Sharp, seu amigo dos tempos da faculdade e agora um famoso guionista, lhe dá conta de como fora maltratado num jornal de Domingo por Fanny Tarrant - uma entrevistadora da nova geração de jornalistas implacáveis - decidem juntos urdir uma vingança. Numa época marcada por escândalos e tragédias, em que os media se afirmam , mais do que nunca, como uma arma poderosa, David Lodge aborda com inteligência, profundidade e humor a "cultura das celebridades" e o consequente conflito entre a escrita - actividade solitária - e as exigências mediáticas."
No livro vemos Adrian a sucumbir várias vezes. Primeiro ao aceitar a sua auto-imposta isolação do mundo mediático para ir em auxílio de Sam. Sucumbe, de seguida, aos jogos de bajulação e elogios com que Fanny começa por o abordar. De novo sucumbe, aos diferentes sentimentos que a jornalista lhe impões, ao jogar com as suas fraquezas e inseguranças. No fim aprende uma grande lição... Que há sempre alguém melhor que nós para a primeira página de um jornal... Ainda que pelos piores motivos.
Recomendo vivamente este livro, não por o considerar de excepcional valor literário, mas sim pelo seu inestimável valor enquanto retrato de uma sociedade actual e vendida aos 15 minutos de fama.
Nota 4
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