A Guerrilha Literária
(Eça de Queiroz/Camilo Castelo Branco)
A. Campos Matos
Parceria A. M. Pereira
EAN 9789728645601
ISBN 978-972-8645-60-1
Admito que tenho um lugar especial na minha biblioteca para as obras do Eça de Queiroz. Sim... Sei que não é fashionable e que o facto de ter lido os Maias, na praia, muito antes de ter de o fazer faz de mim uma aberração da natureza. Mas, ainda assim, admito... Adoro a escrita do Eça. Adoro a sua crítica social e intelectual, rio-me com o seu humor (que acho muito próximo ao famoso humor britânico) e considero a sua escrita de uma profunda e primorosa inteligência.
Quanto ao Camilo Castelo Branco... Bem... Digamos que o sentimento não é o mesmo. Sempre o achei, à falta de melhor descrição, lamechas e romântico ao ponto de ser enjoativo. Ainda assim estaria pronta a dar-lhe o mérito que merecia pelo seu contributo literário. Mas, ao ler o seu pequeno e revoltante livro "A Senhora Rattazzi" (Edição Fac-Similada, Edição/reimpressão: 2009, 54 Páginas, Calçada das Letras, ISBN: 9789899572843) onde ele expõe a sua posição em relação à liberdade pessoal e intelectual da mulher (era contra), a minha consideração por ele baixou consideravelmente... Principalmente porque passei a ver nele não só um homem de contradições mas, também, de hipocrisias (era a favor, literariamente, do amor puro e, no entanto, foi preso pela sua relação com uma mulher casada. Era contra o poder feminino mas Ana Plácido, o objecto do seu amor, era, para todos os efeitos, um nome a considerar no panorama literário nacional e uma ávida leitora, consultora e crítica dos vários autores da altura - incluindo Camilo).
Neste livro o autor aborda a rixa literária que opôs Naturalistas e Realistas (movimentos aos quais Camilo e Eça davam, respectivamente, a cara). Camilo, que não era estranho a este tipo de confronto, não se coibindo de dar a sua opinião menos favorável sobre os trabalhos de outros autores em hasta pública foi, no entanto, bastante comedido nesta guerrilha (talvez por respeito ao pai de Eça que foi o juiz que o ajudou no processo de adultério aquando da sua prisão). Eça foi, como sempre, irónico, inteligente e certeiro nas suas críticas não perdendo, no entanto, o respeito pelo autor mais velho.
O livro lê-se bem e, para quem estuda ou, simplesmente, gosta da história da literatura portuguesa pode ser uma preciosa ajuda para perceber uma altura e dois movimentos da literatura nacional.
Nota 3