Capitães da Areia
Jorge Amado
D. Quixote
EAN 9789722021449
ISBN 972-20-2144-3
Se me perguntassem qual o livro da minha vida teria de responder, muito provavelmente, este. Este livro fez-me chorar, por duas vezes; ao recebê-lo e ao acabar de o ler. O meu paivofereceu-me a história que Jorge Amado escreveu sobre os meninos de rua da Bahia quando eu tinha 13 anos para, segundo ele, me dar "uma nova visão da vida". Chorei! Não de emoção pela oferta e dedicatória, mas por birra... por pura parvoíce... porque queria um livro da Agatha Christie e não deste brasileiro de que nunca ouvira falar (ok, tinha visto a Tieta, mas o meu conhecimento de Jorge Amado começava e acabava aí). O que vale é que, na altura, as minhas birras eram de curta duração.
Nessa noite mergulhei no mundo de Pedro Bala, Pirulito, Volta Seca, Dora, Sem Pernas, Professor, Boa-Vida e todas as outras crianças que, sem família, se defendiam uns aos outros enquanto dormiam espalhados nos areais da cidade. Acabei o livro no dia seguinte. E, aí, o choro foi tão intenso que o meu pai, como me viria a confessar mais tarde, se arrependeu de me oferecer o livro. Mas há choros que não gostaríamos de impedir... que vêm de uma aprendizagem que não trocaríamos por nada.
Sempre vivi muito os meus livros... Embrenho-me na leitura e vejo e vivo tudo aquilo que está escrito. Acredito, inclusivé, que quem diz não gostar de ler o faz por não conseguir visualizar a palavra escrita. E aquele choro, aquele soluçar desesperado, era o choro de uma criança por outras crianças que já nem sabiam chorar. Descobri, nesta obra-prima da literatura lusófona, que existem crianças que, para além de uma família e uma casa, perderam também o luxo de sonhar, de rir, brincar, ser criança e, até, de chorar. Descobri que existem dores mais profundas que a morte e que a esperança e a fé no futuro é um privilégio que não está ao alcance de todos.
O livro é forte... As vidas nele descritas são duras, calejadas. Mas é um livro que aconselho a todos... Aos jovens que não têm consciencia de tudo o que têm, e aos adultos que se queixam da vida sem se lembrarem da dádiva que foi a sua infância.
Nota 5
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